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kafkaCerta manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, "com um dorso duro e inúmeras patas", Gregor Samsa certamente não imaginou que seria tema de tantos eventos de caráter cultural ao redor do mundo. Celebrando 100 anos da publicação do livro em que ele é o protagonista, a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) promove entre os dias 1º e 02 de outubro a 1ª Jornada de Filosofia, Literatura e Linguagens: as metamorfoses de Franz Kafka.
Com conferências, sessões de comunicação e exibição de filme, a programação será sediada na Central de Integração Acadêmica e no Cine São José, em Campina Grande, com entrada franca.

Conforme um dos organizadores da Jornada, o professor Reginaldo Oliveira Silva, inicialmente, o objetivo do evento é comemorar o centenário de A Metamorfose, obra mais conhecida do escritor tcheco, e nesta ocasião não apenas dar a saber mais sobre ele, como também proporcionar visibilidade aos estudos empreendidos sobre os seus textos e temas. "Daí, o evento ser pensado não apenas para o público acadêmico, estudantes e estudiosos das Letras e da Filosofia, mas se destinar à comunidade de um modo geral", explicou.

A abertura se dará no Cine São José, às 19h, com a professora Ilana Viana do Amaral, oriunda do Departamento de Filosofia da Universidade Estadual do Ceará (UECE). A conferência de abertura terá como eixos os teóricos Slavoj Žižek, Walter Benjamin e Guy Debord, alinhados a obra de Franz Kafka. Já a conferência de encerramento será efetuada pelo professor Diógenes André Vieira Maciel, proveniente do Departamento de Letras da UEPB.

A exibição do filme "A Metamorfose", do cineasta russo Valeri Fokin, ocorrerá no Cine São José, no dia 02, a partir das 17h, bem como as sessões de comunicação, realizadas nos períodos da manhã e da tarde. Há 10 comunicações confirmadas e dentre elas pode-se destacar "Kafka e monstruosidade – o mal que transcende a feiura", com o professor Wellington Amâncio (Universidade do Estado da Bahia - UNEB), "A estética da angústia entre literatura fantástica e psicanálise", do graduando da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Willey Pereira dos Santos, "Aspectos gerais sobre compreensão adorniana acerca da literatura de Kafka: uma leitura da obra A Metamorfose a partir do conceito de 'estranho'“, com a mestranda da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Pamela Cristina de Gois, e "Metamorfose estética: liberdade ou alienação?", com o mestrando da UECE, Wilhelm Gustav Sousa Steinmüller.

Para o professor Reginaldo, Kafka foi, e ainda é, um dos maiores escritores do século XX. "Inaugural no estilo, não se tornou importante apenas para a literatura, também foram sensíveis aos seus escritos os filósofos, os psicanalistas, os sociólogos, contemporâneos ou tardios. Discuti-lo é discutir os tempos modernos ainda não de todo compreendidos, é discutir os enredamentos de indivíduos às voltas com a definição do mundo e como devem neste se situar. Sugere refletir sobre a atualidade dos seus escritos, o que ainda no tempo presente, passados cem anos de A Metamorfose, o escritor ainda pode nos falar", destacou.

A I Jornada de Filosofia, Literatura e Linguagens: As Metamorfoses de Franz Kafka é realizada pelo Curso de Licenciatura em Filosofia da UEPB, o Extemporâneo – Núcleo de Pesquisa em Filosofia Contemporânea, e organizada pelos professores Reginaldo Oliveira Silva e Ricardo Soares da Silva. Outras informações podem ser encontradas no portal do evento, através do endereço https://sites.google.com/site/jornadakafikanianaceducuepb/home.

Mais sobre Franz Kafka e A Metamorfose

Apesar de ter sido publicada em Leipzig no ano de 1915, “A Metamorfose” foi escrita em 1912, após cerca de 20 dias de trabalho. O livro conta a história do caixeiro-viajante Gregor Samsa, transformado em um monstruoso inseto. Associando a ironia ao trágico e grotesco da condição humana, a obra é tecida em meio a um realismo surpreendente, sendo centrada no desespero do homem perante o absurdo do mundo, das forças que o indivíduo ignora e que não pode compreender e, menos ainda, controlar.  Quem nunca se sentiu um inseto frente ao gigantismo avassalador dos problemas cotidianos, de ordem familiar, financeira, burocrática? A mais célebre novela de Kafka inspirou inúmeros filmes e peças de teatro, tendo influenciado ainda correntes filosóficas como o Existencialismo e movimentos artísticos como o Surrealismo.

Para Kafka, “precisamos de livros que nos afetem como um desastre, que nos angustiem profundamente, como a morte de alguém que amamos mais do que a nós mesmos, como ser banido para florestas distantes de todos, como um suicídio. Um livro tem de ser o machado para o mar congelado dentro de nós”. O escritor nasceu em Praga, em 1883. Era filho de judeus de classe média e encontrou na figura opressora do pai o leitmotiv para muitos dos conflitos de seus personagens, observados mais claramente na obra Carta ao Pai. Estudou Direito na Universidade de Praga e trabalhou em companhias de seguros. A vida de Kafka foi marcada pela solidão, relacionamentos amorosos frustrados e pela insatisfação no trabalho, que lhe roubava muito do tempo que gostaria de dedicar à literatura. Embora respeitado em grupos literários de Praga e Berlim, suas obras-primas foram publicadas apenas postumamente, pelo amigo e depositário Max Brod, contrariando o desejo de que seus inéditos fossem queimados após sua morte. Faleceu em 1924, em consequência de uma tuberculose que o acometeu em 1917 e o obrigou a passar longas temporadas em sanatórios. Deixou vasta obra no idioma alemão, traduzida em todo o mundo.