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vicente amato netoPrimeiro médico residente em infectologia no Brasil e professor emérito da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Vicente Amato Neto morreu na terça-feira (11/12), aos 91 anos, na capital paulista. Amato foi chefe da Clínica de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da FMUSP, de 1976 a 1997, superintendente do Hospital das Clínicas (HC), entre 1987 e 1992, e secretário de Estado da Saúde de São Paulo, em 1992 e 1993.
Como pesquisador, contribuiu para marcos no campo da medicina tropical, como a caracterização da forma aguda e da transmissão da doença de Chagas por transfusão, a caracterização clínica da toxoplasmose adquirida e o aprofundamento de aspectos diagnósticos e terapêuticos das enteroparasitoses e das imunizações. Publicou 348 artigos científicos e seis livros didáticos.

Um de seus ex-alunos, o médico infectologista Aluísio Segurado, que ocupa o cargo que era de Amato Neto quando ambos se conheceram, de diretor da Divisão de Clínica de Moléstias Infecciosas da FM-USP, destaca a importância do trabalho de Amato na formação de profissionais.

“Eu estava no primeiro ano de faculdade quando testemunhei uma aula dele por ocasião do concurso público para professor de moléstias infecciosas. Tinha o mesmo espírito em todas as salas de aula: o de um didata, com muita proximidade com os alunos, tendo sido querido por diversas gerações de estudantes e futuros mestres, doutores e lideranças de centros assistenciais e de pesquisa no Brasil inteiro”, disse Segurado.

Amato deixa a esposa, Miriam Sabbaga Amato, dois filhos e um neto. “Escolhi a infectologia muito por causa dele e tenho recebido mensagens de muitos colegas que fizeram o mesmo”, disse um dos filhos, Valdir Sabbaga Amato, professor associado do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da FMUSP. Ele conta que outra paixão do pai, era o futebol na faculdade. O campo da Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz, na FMUSP, onde esteve para assistir a uma partida no último sábado antes de seu falecimento, tem seu nome.

Vicente Amato Neto se dedicou ao ensino, pesquisa e extensão em todos os níveis da formação médico-científica. “Trata-se de um ícone da medicina tropical e da infectologia brasileira por uma trajetória não só pioneira como profícua, que não parou de produzir, de encorajar e capacitar as novas gerações para fazerem o mesmo”, disse Segurado. Ele próprio, incentivado por Amato Neto na residência de infectologia, em 1981, engajou-se em uma de suas causas, o acolhimento de doadores de sangue diagnosticados com infecções.

“O professor Amato queria ajudar os colegas hemoterapeutas que se deparavam com doadores diagnosticados com alguma infecção ao terem seu sangue testado. Ele foi criando, então, no âmbito da Clínica de Moléstias Infecciosas, uma série de ambulatórios para atrair esses doadores recentemente diagnosticados com infecções – primeiro com hepatite B, depois a C, HIV e, por fim, com os então recém-descobertos retrovírus HTLV 1 e 2”, disse Segurado.

Amato Neto também participou ativamente da ampliação dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (Cries) em várias regiões do Brasil. Tratam-se de centros de imunização referenciados não só para prover vacinas mas também para estudar eventos adversos e fenômenos relacionados. Foi graças à sua insistência, lembra a médica Marta Heloisa Lopes, da FMUSP, que foi fundado o Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais do Hospital das Clínicas, do qual é responsável.

“Ainda na década de 1980, por iniciativa dele, foi instalado o então Centro de Imunizações do HC. À época, havia certa resistência à vacinação, uma atividade da atenção primária, em um local do porte do HC, mas ele costumava dizer que vacina também é coisa de adulto, defendendo, entre outras medidas, a ampla imunização de idosos contra a gripe”, disse Lopes.

 Em 1993, o local se tornou o primeiro Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais da capital paulista, lidando com vacinas que não constavam da rotina do programa de imunizações. De acordo com Lopes, Amato Neto contribuiu ativamente para o desenvolvimento do Programa Nacional de Imunizações, que distribui mais de 300 milhões de doses de vacinas, soros e imunoglobulinas todo ano.

“Vicente Amato Neto se dedicou ao conhecimento sobre as doenças tropicais e às doenças infecciosas da população mais pobre. É seu legado e nosso compromisso manter contemporâneos os estudos das doenças tropicais, tão facilmente esquecidas e negligenciadas”, disse outra de suas ex-alunas, a epidemiologista Ester Cerdeira Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo – dirigido por Amato Neto entre 1985 e 1988.

Revista Pesquisa FAPESP