Entre 2013 e 2014, o arquiteto Eduardo Pimentel Pizarro fez visitas à comunidade, na Zona Sul da capital paulista, enquanto desenvolvia a pesquisa "A qualidade socioambiental dos espaços livres de favelas: estudo e proposição com referência na Cidade de São Paulo", realizada com apoio da FAPESP e orientada por Joana Carla Soares Gonçalves, professora da FAU-USP.
No trabalho de campo foram feitas medições de temperatura, umidade e velocidade do vento em casas e pontos externos que, com a ajuda de softwares, possibilitaram a realização de simulações de medidas para ventilar e resfriar os locais e trazer maior conforto ambiental.
“Todo esse trabalho de campo, seguido das simulações e análises realizadas ao longo da pesquisa, possibilitou uma maior compreensão sobre como esses interstícios urbanos – tudo o que está entre as edificações, como calçadas, ruas, praças e quintais – podem ser organizados de forma a contribuir com o conforto ambiental das pessoas, trazendo também benefícios ambientais, urbanos e sociais para a comunidade”, conta Pizarro.
Entre as estratégias apresentadas pelo trabalho está uma que se baseia na forma de assentar tijolos e blocos de modo que a construção proporcione mais ventilação ao ambiente e o proteja da incidência direta do sol, melhorando o conforto ambiental no espaço interno das residências. O arquiteto se baseou em materiais já utilizados pelos moradores, como tijolo maciço, bloco cerâmico vazado e blocos de concreto.
O trabalho também propõe a abertura de vãos livres em alguns pavimentos das edificações que possuem três ou quatro andares para a passagem de ventilação, acesso ao sol e criação de espaços públicos.
Para o arquiteto, “é preciso olhar para a favela buscando lições que poderiam ser aplicadas na cidade como um todo”. Com esse objetivo, Pizarro deu prosseguimento ao trabalho de doutorado "Uma São Paulo para o futuro: interstícios urbanos como infraestrutura ambiental, ergonômica e urbana", também com o apoio da FAPESP.
“Uma cidade como São Paulo é vista sob a ótica dos ‘cheios’, desconsiderando-se os vazios, volumetricamente, que acabam existindo de forma isolada, mas que constituem uma série de oportunidades latentes. Isso pode ser observado de forma mais agravada em bairros que vêm sofrendo adensamento e verticalização desde as últimas décadas. A ideia do doutorado é promover uma ressignificação e requalificação desses interstícios pautada por requisitos ambientais e urbanos, de modo a constituir uma efetiva infraestrutura para a cidade e seus habitantes”, explica.
O trabalho também é realizado na FAU-USP, com orientação de Gonçalves. Durante o mestrado, Pizarro publicou em um jornal da comunidade um guia para que os moradores apliquem algumas das estratégias propostas. O arquiteto planeja produzir uma cartilha com mais orientações.
A dissertação com os resultados da pesquisa em Paraisópolis pode ser acessada em www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16132/tde-19122014-155950/pt-br.php.
Agência FAPESP