é promovida pelos ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e da Educação (MEC), por meio de suas instituições de fomento – o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) – e das secretarias de Ensino Superior e de Ensino Tecnológico.
Embora o estudo tenha identificado benefícios aos estudantes, também encontrou problemas estruturais que podem impedir que todos os participantes sejam plenamente beneficiados, demonstrando a importância de uma maior colaboração no planejamento e na implementação de iniciativas de oferta de bolsas de estudo no estrangeiro.
Além das entrevistas, Julieta Grieco, mestre em Artes pela Universidade de Toronto e autora da dissertação, realizou uma revisão crítica da literatura sobre internacionalização e mobilidade estudantil internacional, tratando dos fluxos de estudantes entre países e avaliando suas implicações nos locais de origem.
“Alguns autores argumentam que, juntamente com o aumento da mobilidade acadêmica, cresce também a migração permanente, a qual, por sua vez, contribui para uma espécie de ‘drenagem ou fuga de cérebros do hemisfério Sul’, levando trabalhadores altamente qualificados de diferentes áreas”, disse.
De acordo com a dissertação, o Ciência sem Fronteiras foi escolhido para o estudo devido à sua dimensão em comparação a outros programas no exterior. Em 2014, quando as entrevistas para o estudo foram realizadas, a Universidade de Toronto tinha 388 estudantes brasileiros beneficiados pelo programa, nas áreas de Engenharia, Computação, Medicina, Biologia, Biomedicina, Arquitetura, Farmácia, Química, Física, Estatística, Matemática, Geografia, Ciências Ambientais e Enfermagem, entre outras.
Desses foram escolhidos nove homens e 11 mulheres. As perguntas versavam sobre as diferentes etapas do estudo no exterior, a fim de avaliar como cada uma é potencialmente impactada ao longo da experiência, abrangendo serviços de orientação e de apoio, bem como os cursos e a distribuição dos alunos.
“Em geral, não há dúvida de que o Ciência sem Fronteiras contribuiu para a construção de uma imagem mais forte para o Brasil aos olhos da comunidade acadêmica internacional, como a própria Universidade de Toronto”, disse Grieco.
No entanto, o estudo chama a atenção para a falta de uma avaliação formal da primeira fase do programa para melhorá-lo.
“O Ciência sem Fronteiras não transcorreu sem críticas. Acadêmicos de ensino superior familiarizados com o contexto do Brasil têm apontado para certas características que podem comprometer seu sucesso – majoritariamente, mencionam problemas com a seleção de alunos e com a ausência de um processo de avaliação do programa”, destaca.
De acordo com Grieco, os resultados do estudo reiteram a crítica e sugerem que o programa não criou instrumentos que garantam que todos os beneficiados sejam direcionados a instituições mais adequadas aos seus perfis, que possam oferecer cursos e canais de estudo mais relevantes para cada perfil de aluno.
“Em última análise, isso aponta para a conclusão de que os problemas estruturais constituem um obstáculo à eficácia do programa na promoção dos resultados desejados”, afirma. O estudo recebeu, em 2015, o prêmio Ontario Graduate Policy Research Challenge (OGPRC), do Ontario Ministry of Training, Colleges and Universities.
Internacionalização da ciência
Para uma eventual próxima fase do Ciência sem Fronteiras, o estudo sugere que a estrutura do programa leve em consideração “uma abordagem mais colaborativa e integrativa na sua administração e execução para melhorar a experiência de estudantes”. Para isso, observa, é necessário o “desenvolvimento de serviços de orientação tanto nas instituições de origem como nas de acolhimento” e “investimento em uma seleção e em um sistema de correspondência mais rigoroso entre o estudante e seu destino”.
De acordo com Grieco, a partir das entrevistas com os participantes, o planejamento também afetaria a experiência pessoal de cada aluno. Quando perguntados sobre o que os motivou a participar do programa, 16 dos 20 participantes mencionaram o desejo de estudar no exterior para ganhar uma experiência internacional.
“Tal raciocínio vai ao encontro da meta do programa de promoção da internacionalização da ciência e da tecnologia no Brasil por meio da promoção da mobilidade internacional dos estudantes. Metade dos participantes também mencionou a possibilidade de melhorar sua habilidade com o idioma inglês e suas competências linguísticas como um fator motivador.”
No entanto, as entrevistas identificaram que nem todos os alunos experimentaram esses benefícios de maneira satisfatória.
“Isso devido a uma orientação acadêmica insuficiente antes da partida – dos 20 entrevistados, apenas dois alunos mencionaram que sua instituição de origem forneceu serviços de orientação, passando por oficinas sobre diferenças culturais. A falta de uma orientação mais ampla pode afetar a transição do aluno e sua capacidade de se envolver e de interpretar seu novo ambiente acadêmico e cultural.”
A dissertação está disponível para download na biblioteca on-line da Universidade de Toronto, em tspace.library.utoronto.ca.
Agência FAPESP