
“O grande legado de Adib Jatene é ter demonstrado que a busca da excelência profissional não exclui e, pelo contrário, deve incluir o compromisso com a sociedade e com a melhoria das condições em que a profissão é exercida”, disse Eduardo Moacyr Krieger, conselheiro da Fundação Bunge, vice-presidente da FAPESP e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Krieger destacou a carreira de cirurgião e de educador de Jatene, além de sua preocupação com a saúde pública. Lembrou que Jatene dizia que “o médico deve ser especialista em gente” e lutava pela melhoria das escolas médicas do país.
“A carreira brilhante como cirurgião cardíaco foi exercida simultaneamente com a de educador. [Jatene] combatia a especialização precoce, incentivando que o médico tivesse uma formação geral que o capacitasse a atuar no sistema de saúde vigente no país. Lutou pela melhoria das escolas médicas, opondo-se à criação indiscriminada de novas escolas sem condições de formar médicos qualificados”, afirmou.
Entre os legados de Adib Jatene para a medicina está a proposta de um novo procedimento cirúrgico para a correção da Transposição das Grandes Artérias (TGA), cardiopatia congênita mais frequente no período neonatal. Ele também desenvolveu o primeiro coração-pulmão do Hospital das Clínicas da FMUSP, nos anos 1950, e realizou a primeira cirurgia de ponte de safena no Brasil, em 1968.
Outros conselheiros da Fundação Bunge também prestaram suas homenagens a Jatene, nascido em 1929, na cidade de Xapuri.
“Sua vida profissional, dedicada à saúde dos brasileiros, especialmente dos mais humildes, e ao estudo de temas relacionados ao Brasil, deixa um rico legado no qual se destaca a valorização da ciência a serviço do ser humano”, disse Jacques Marcovitch, presidente do Conselho Administrativo.
A conselheira Aracy Amaral recordou a participação do colega no Conselho Administrativo. “A admiração que senti ao vê-lo em uma das últimas sessões do Conselho da Fundação Bunge, fragilizado, porém firme, transmitia a sensação de estar diante de uma personalidade única por sua jornada de vida. Num país que se ressente da falta de memória, sua partida deve ser celebrada como uma enorme perda para a saúde pública brasileira”, disse.
Jatene morreu no dia 14 de novembro de 2014, em São Paulo (SP), de infarto agudo do miocárdio. Foi um dos pioneiros da cirurgia do coração no Brasil, tendo realizado mais de 20 mil procedimentos – entre eles, a primeira cirurgia de ponte de safena. Também inventou diversos aparelhos e equipamentos médicos e foi autor e coautor de cerca de 700 trabalhos científicos publicados na literatura nacional e internacional.
A íntegra do discurso de Krieger, que recapitula a trajetória profissional de Jatene, pode ser lida em http://bit.ly/1zIGjfu.
Agência FAPESP