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No fim de uma tarde dourada no campus Darcy Ribeiro, um seleto grupo de pessoas assiste – em discreto êxtase – ao desenrolar de uma cerimônia incomum. Na tarde da sexta-feira, dia de seu aniversário de 90 anos, o artista plástico e mestre aposentado Milton Martins Ribeiro recebeu das mãos do reitor José Geraldo de Sousa Junior o título de professor emérito da Universidade de Brasília.
Realizada na Galeria Espaço Piloto do Instituto de Artes (IdA) da UnB, a ocasião especial marcou também a abertura da exposição Milton Ribeiro, uma Constelação, que estará aberta à visitação até 19 de novembro, no mesmo local.

Em meio ao afeto de alunos, ex-alunos, professores, admiradores e familiares, e acompanhado sempre por sua mulher Beatriz, Milton Ribeiro pautou o tom da cerimônia festiva: gentil e discreto, generoso e delicado, o temperamento do professor pareceu contagiar a todos. Tomado pela emoção antes mesmo do início da solenidade, Milton brincou: “Eu já estou muito comovido, porque hoje estou fazendo 90 anos; como vou aguentar uma coisa dessas?”, brincou, com um sorriso. A seu lado, a delicada Beatriz Ribeiro fez coro: “Estou deslumbrada: é muita honra”, disse, citando em seguida a expressiva frase de Mercedes Sosa: “Gracias a la vida que me ha dado tanto!”.

Após o Hino Nacional – cantado na íntegra pelo professor Milton Ribeiro, acompanhando a gravação –, a cerimônia foi aberta pelo cineasta e também professor emérito Vladimir Carvalho, amigo do homenageado. Carvalho descreveu as origens cariocas de Milton, nascido no “bairro de artistas” Estácio, e contextualizou o efervescente político e cultural – repleto de referências como Portinari, Di Cavalcanti, Guignard e Pancetti, por exemplo – em que o jovem artista viu aflorar a paixão que se tornaria sua carreira. (Saiba mais sobre a trajetória de Milton Ribeiro aqui.) Narrou sua busca por uma estética pessoal e sua passagem por Paris – até empreender “sua própria marcha para o Oeste”, nas palavras de Vladimir, e chegar em 1967, à recém-estabelecida Brasília.

“Aqui, sua sensibilidade se mobiliza, seduzida pela luz e a cor que reverberam por toda parte nessa Brasília em seus primórdios”, descreveu o cineasta – exaltando a forma como, pelo olhar de Milton Ribeiro, a enorme luminosidade da cidade passou a ser “refletida inexoravelmente” na paleta do artista e em sua obra, “retemperada neste novo cenário”. Da paixão pela natureza, o olhar do mestre passou a vagar por uma paisagem social e natural mais realista, por “um mundo paralelo à urbe monumental, de barracões” construídos em ruas de terra vermelha e que “se rende aos matizes outonais do cerrado em tempo de sequidão”, nas palavras de Vladimir. Desse mergulho resultou um registro pictórico precioso e até então inédito de Brasília, onde Milton Ribeiro viu aflorar sua outra verve: a de mestre, movida pelo “temperamento generoso e solidário”. Como professor, Milton compilou suas próprias aulas e criou seus próprios métodos, marcando gerações de alunos na Universidade de Brasília.

Por fim, Vladimir Carvalho lembrou a recente visita que fez ao lar de Beatriz e Milton, ao lado do reitor José Geraldo e da Comissão UnB 50 Anos, para receber a generosíssima doação, para a Universidade, de 250 quadros do acervo do artista. (Saiba mais sobre a visita aqui e sobre a doação aqui.) “Para mim, é como se eles representassem ali o leite e o mel da ternura humana, tão cativantes como são!”, exclamou Vladimir, descrevendo também a claridade e a harmonia da casa (“onde cada coisa tem seu lugar, mas tudo está aberto á liberdade”) do artista e a intensa emoção que marcou o encontro. “O resultado de tudo isso é a alegria de nossa UnB em poder distinguir e consagrar um de seus membros mais ilustres”, finalizou Vladimir.

CONVERSA – “A pintura me permite conversar com o mundo e comigo mesmo”, resumiu Milton Ribeiro em seu discurso, explicitamente emocionado e cercado dos cuidados do neto Alexandre Serra Barreto. Lacônico, o mestre disse ser “uma grande surpresa para mim essa honra que a Universidade de Brasília me concede”. “Minha família aqui presente é testemunha da emoção que tenho vivido nessa universidade, e especialmente hoje, com o título que recebo – o mais importante que um professor pode esperar”, disse.

Elegantíssimo em seu terno preto e postura sempre gentil e modesta, Milton Ribeiro foi acompanhado na mesa da cerimônia pelo reitor José Geraldo de Sousa Junior; pela diretora do IdA, professora Izabela Brochado; e pela vice-diretora do Instituto, Nivalda Araújo.

EXPLOSÃO - "A emoção que permeia esta sessão começou a se formar no dia em que visitamos a casa de Milton Ribeiro", disse o reitor José Geraldo, ao abrir sua homenagem. Para o reitor, a fama de lacônico do homenageado é justificável: "O artista não precisa explicar - o artista revela, expõe", reiterou, observando que a "explosão criativa" de Milton Ribeiro, ao mesmo tempo denúncia e reminiscência, expressa de forma eloquente a forma como o artista vê o mundo e sua própria história.

"Estou no fim do meu mandato como reitor. Vivi situações e emoções muito diversas e intensas na Universidade, mas quero confessar: nunca como agora, com tal intensidade, me emocionei de forma tão sensível, desde a nossa visita à casa do artista e mestre Milton Ribeiro", declarou José Geraldo, para quem, com relação ao artista carioca, "os laços de afeto e reconhecimento" se misturam.  "Neste ano do jubileu, poder conferir esse título é também oportunidade de apresentar, com força, o lugar que esperamos que a arte tenha na nossa Universidade", completou.

A festa para Milton Ribeiro foi encerrada com luzes apagadas, velas e bolo de chocolate e morangos - como condiz a uma celebração em torno de um doce senhor que, aos 90 anos, ainda tem alma e olhar de menino.

UnB Agência