
As similaridades nos discursos dos dois docentes marcaram também a solenidade em que receberam os títulos de professores eméritos, nesta segunda-feira, 31 de outubro. Carlos Chagas e Luis Humberto dedicaram a homenagem aos seus alunos. “Eu não seria professor emérito se não tivesse tido alunos”, anunciou Luis Humberto antes de iniciar seu discurso. “Juntos aprendemos, professores e alunos, a duvidar, a questionar. O passado é o nosso maior tesouro”, afirmou Carlos Chagas.
Professor de disciplinas como “História da Imprensa” e “Ética” entre 1981 e 2006, ano em que se aposentou como professor titular, Carlos Chagas lembrou em seu discurso o período de perseguição política nos corredores da UnB, enalteceu a divergência como qualidade acadêmica e defendeu o diploma de jornalista. “Enfrentamos, de tempos em tempos, a batalha pela manutenção do diploma”, destacou. “O principal argumento daqueles que defendem o fim do diploma é que o dom de escrever faz o jornalista. Não é bem assim. O dom de escrever faz o escritor”, argumentou, lembrando que foi em Direito sua graduação na Pontifica Universidade Católica do Rio de Janeiro, concluída em 1960. “Quem lhes fala é um velho jornalista que não tem diploma”.
Aos 73 anos, o jornalista cobriu fatos marcantes da história brasileira, como a eleição, a posse e a renúncia do ex-presidente Jânio Quadros, para jornais como O Globo e O Estado de S. Paulo, além de conquistar prêmios importantes. “Carlos Chagas é uma referência da história brasileira”, resumiu o professor Luiz Gonzaga Mota, da Faculdade de Comunicação, em seu discurso em homenagem ao professor.
PAIXÃO – Como Carlos Chagas, Luis Humberto também tinha paixão pela carreira de professor. “Polemista, entusiasmado e apaixonado. Ninguém passa incólume pela experiência de ter Luis Humberto como professor”, lembrou Marcelo Feijó, do Departamento de Audiovisual da Faculdade de Comunicação, que apresentou a trajetória do professor durante a solenidade.
Como arquiteto, formado pela atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, Luis Humberto trabalhou na construção de prédios importantes da UnB entre 1962 e 1965, como os da Faculdade de Educação e do Instituto de Artes. Em 1965 se demitiu com mais 222 professores, em protesto contra a demissão de outros 15 docentes.
Retornou 20 anos depois para a Faculdade de Comunicação, já com uma trajetória profissional consolidada como fotógrafo. “A nós professores cabe o papel de estimuladores da inquietação”, resumiu no final de seu discurso, ao responder à pergunta proposta quando assumiu o microfone. “Qual o papel do professor em uma época tão conturbada?”, indagou emocionado, sob o olhar cuidadoso da mulher, Márcia Noronha, enquanto tentava manter o ritmo do discurso de quatro páginas que preparou durante várias noites. “Eram 18 páginas, que tive de editar, um momento de extrema angústia”, brincou.
"Aqui temos duas biografias que refletem os indicadores de excelência em que a Universidade tem se destacado e aponta para o horizonte daquilo que devemos ser: uma universidade emancipatória”, afirmou o reitor José Geraldo de Sousa Junior, ao encerrar a solenidade.
Os títulos de Luis Humberto e Carlos Chagas são os primeiros concedidos a professores da Faculdade de Comunicação. Seus nomes foram aprovados pelo Conselho Universitário (Consuni) em 26 de agosto deste ano, junto com o do professor e cineasta Vladimir Carvalho. “Eles representam uma unanimidade. São os três nomes que surgiram sem qualquer contestação”, afirmou o diretor da Faculdade de Comunicação, David Renault. “É um reconhecimento importante e que não podia passar despercebido”, comentou.
UnB Agência