
Ele realizou a apresentação nesta segunda-feira (17/10), na sede do programa, localizada na Praça da Sé, em São Paulo.
Em sua exposição, intitulada “Um líder sem seguidores? O Brasil entre os empecilhos regionais e a emergência global”, Malamud disse que o Brasil fracassou na tentativa de se tornar um líder entre os países da América do Sul. Entre os BRICs (Brasil, Rússia, China, Índia e, mais recentemente África do Sul), o país não apresenta crescimento econômico comparado aos índices chineses e indianos. Se a perspectiva de análise pender para o lado da segurança, o país é o único do grupo a não possuir um programa de armamento nuclear. Também é aquele que tem o menor contingente de homens no exército, tanto em relação aos BRICs quanto comparado às nações do Conselho de Segurança da ONU, de acordo com Malamud.
Seguindo a análise do pesquisador, apesar de não ter se tornado uma liderança regional na América Latina, nem mesmo na América do Sul, o Brasil decolou como emergente, contradizendo a teoria das Relações Internacionais. Em um dos seus conceitos, a teoria prediz que todo país que aspira se tornar protagonista global deve, antes, ser legitimado no nível regional.
“Apesar de seus problemas estruturais graves, o Brasil está presente hoje nos principais órgãos decisórios globais”, disse. Ele cita como exemplo a liderança brasileira no G20, em negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC) e no grupo de cinco países da Cúpula do Clima.
“O país não se tornou líder devido às condições territoriais e políticas existentes na região sulamericana. Na verdade, os políticos brasileiros foram ingenuos ao acreditar que poderiam ultrapassar tais barreiras”, salientou Malamud. “No entanto, a atuação do Brasil na liderança da Força de Paz da ONU no Haiti, e em outras articulações, demonstram o peso da nação nas decisões globais.”
Uma nação “soft power”
Para o cientista, o país vendeu uma imagem muito positiva de potência emergente, o que é chamado nas relações internacionais de “soft power”. Ou seja, o Brasil se coloca como uma nova potência aberta para o dialogo, promotora da diplomacia na resolução de conflitos, conforme pensamento de Malamud.
"Apesar da imprensa brasileria contestar as viagens dos ex-presidentes, elas foram muito importantes para elevar o Brasil ao nível de ator internacional", avaliou. "O resultado disso pode ser verificado, por exemplo, na realização da Copa do Mundo em 2014 e os jogos Olímpicos em 2016."
Malamud fez uma comparação com o número de deslocamentos de Lula e dos norte-americanos George W. Bush e Barack Obama. Nos primeiros 22 meses de governo, Bush fez 11 viagens a 22 países. Já Obama, visitou 25 nações em 15 viagens. E Lula foi a 35 países, ao longo de 32 viagens.
Currículo
O programa San Tiago Dantas, realizado em parceria pela Unesp, Unicamp e PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), convidou o professor e pesquisador Malamud para falar aos alunos de mestrado e doutorado sobre integração regional, com foco na comparação da União Européia e da América do Sul.
O cientista político da Universidade de Lisboa é coordenador do grupo de pesquisa interinstitucional “Regionalismo multi-nível e liderança brasileira na América do Sul”. O projeto é financiado pela Fundação de Ciência e Tecnologia (FCT), do Ministério da Educação e Ciência portuguesa.
Ele fez doutorado no Instituto Universitário Europeu de Florença, na Itália, onde desenvolveu pesquisa sobre integração e instituições políticas comparadas. Malamud é pesquisador visitante no Instituto Max Planck de Heidelberg, da Alemanha, e professor visitante em universidades da Argentina, Espanha, Itália e México.
Unesp Assessoria de Imprensa