
Sejam sofistas, filósofos ou professores, os amantes do saber têm o desejo de transmitir conhecimento.
E como é ser professor nos dias de hoje? Para a professora e jornalista Laura Perucci ser professor é contribuir para a formação de pessoas, para a sua educação, para a sua evolução. Mas também é aprender, é uma troca de experiências enriquecedora. E é constante, já que os alunos nunca são os mesmos.
Para a professora e psicóloga Maria do Rosário Stotz ser professor significa continuar no papel de aprendiz, pois é na relação professor-aluno que ambos aprendem. O conhecimento é adquirido a partir dessa relação que ao mesmo tempo é a relação professor+aluno-conhecimento. O ambiente da universidade, para ela, é um ambiente de aprendizagem em suas múltiplas facetas.
Um dos principais papéis de professor, que é o de construir conhecimento está passando por mais uma fase de transição desde a chegada da internet. Até pouco tempo dar aula era uma coisa, e tecnologia era outra. Hoje se sabe que as duas andam juntas. A professora Laura acredita que aplicar tecnologias em sala de aula é fascinante. ”Quando se aplica o uso da tecnologia corretamente ela só tem a acrescentar e melhorar o trabalho do professor. Mas a tecnologia sozinha não faz nada se o professor não souber usá-la. Por isso, não basta, por exemplo, o governo investir em laboratórios de informática modernos sem capacitar professores para lidar com essa tecnologia.
A possibilidade de diversificar a maneira como a aula é dada é uma das melhores vantagens, defende a professora Laura. “A aula pode fugir do lugar-comum, com diversos recursos à disposição: vídeo e áudio. As apresentações não se limitam mais a slides. A internet acaba virando uma grande enciclopédia, com muito material que pode ser aproveitado na sala de aula. A professora Rosário acredita que mesmo usando as novas tecnologias em sala de aula e necessário que o professor ocupe o lugar de aprendiz, de aluno, daquele que quer saber mais para poder ser professor. “A tecnologia pode auxiliar muito, depende como se usa. Mas, no mínimo temos que conhecê-las para podermos optar pelo seu uso ou não”.
Os métodos antigos de dar aula serão substituídos logo que a geração Y, pessoas que nasceram e cresceram com as tecnologias digitais a partir dos anos 80, chegarem a docência. Laura percebe que a geração Y é mais “antenada” nas redes sociais e em tudo que a tecnologia tem a oferecer. “Não que os mais velhos também não sejam interessados no assunto, mas sempre há os mais resistentes”.
“Esse povo novo é um grande desafio, sua maneira de se relacionar com as novas tecnologias, que para eles é o cotidiano, nos põe a trabalho. É momento de arregaçar as mangas, não se intimidar, mas saber que para ensinarmos, para educarmos, precisamos continuar aprendendo, a cada dia, com cada sujeito que cruza nosso caminho. Assim como com cada tecnologia que esbarra com nossas carcaças jurácicas”, acrescenta a professora Maria do Rosário.
A professora Laura disse que é importante destacar que os alunos também precisam saber usar as tecnologias a seu favor. “Não enxergar um laboratório de informática como uma possibilidade de utilizar o bate-papo e colocar a conversa em dia com os amigos, mas sim como um lugar com ferramentas que possibilitam a pesquisa e chance de um debate mais rico entre turma e professor. Não basta somente o professor saber usar a tecnologia e os alunos não saberem aproveitá-la”.
Sobre as novas tecnologias a professora Maria do Rosário ainda destaca: Nada mais interessante do que podermos estudar alguns elementos em 3D, nas telas de um computador. Podermos falar com universidades de outros lugares do mundo e trocar informações; participar em aula conjuntas e mesmo bancas via webconferencia. Mas por outro lado, o cheiro do livro, a textura do papel também é fascinante e auxilia na vontade de degustar determinada obra. É também com os sentidos que aprendemos, além da memória, além do pensamento. A aprendizagem passa pelo meu ser como um todo e a base disso tudo é meu corpo e a referência psicológica que tenho do meu corpo e de meu psiquismo, articulados, embricados”.
Sobre missão de ser professora Rosário diz que de quando em quando pensa o que ainda a move a ser professora. “O que ainda pode me fascinar em entrar em sala de aula é olhar muitos rostos enfurnados nas telas de mil modelos de leptop. Não sei dizer exatamente. Mas ainda é um grande prazer preparar um texto ou uma matéria, ou me perguntar sobre algo que ainda não me fez questão. Digo sempre a meus alunos e penso que por vezes eles não acreditam, mas para mim é real: eles sempre dão um jeito de fazer uma pergunta que eu ainda não sei a resposta. E isso por inúmeras vezes, e inclusive relativas a um mesmo texto que trabalho há muitos semestre. O conhecimento é movimento e por ser dinâmico, gera conflitos e inquietações. Ou seja, mostra-me todos os dias que ainda estou viva. E isso é muito bom”.
Rosário também crê que não existe uma única forma de aprender ou de ensinar ou de ocupar o lugar de professor. “Cada um pode falar de si nesse lugar. O que pretende? Qual seu objetivo? Penso que no meu caso, conto todos os dias como dias de mudanças. São alunos que vêm e que vão. Pesquisas que se iniciam e terminam. Tenho muito prazer em alguns momentos ouvir uma aula no "modelo clássico" e com um professor com uma postura conservadora. Às vezes é encantador e enriquecedor, depende do contexto, dos sujeitos envolvidos. Precisamos sempre saber um pouco sobre nossos alunos e nos aproximarmos deles a partir da realidade deles para que as aulas lhes sejam interessante e esse movimento de aproximação entre o meu mundo, o mundo do aluno e o mundo da ciência é um grande desafio, um descobrimento a cada dia”.
Jornal UnisulHoje
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