Eliezer Barreiro, da UFRJ: trabalho de “inovação inovadora” com Luiz Carlos Dias, do Instituto de Química da UnicampEliezer Jesus Barreiro, professor de química medicinal na UFRJ, que daria a última palestra da manhã desta terça-feira, atribuiu o convite feito pela organização à sua longa estrada em busca de moléculas candidatas a fármacos. “Temos tido sorte e achado substâncias interessantes, provável razão de nosso laboratório vencer edital do MCT criando o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia [INCT] de fármacos e medicamentos. Encontramos duas substâncias bastante promissoras que alavancaram um trabalho de inovação realmente inovadora – e não há como escapar da redundância”.
Este trabalho se relaciona ao medicamento mais vendido no mundo, o Lipitor, para redução de colesterol plasmático, que foi desenvolvido a partir de um produto natural, o fungo compactina. “Por estar nesta Universidade, tenho obrigação ainda maior de citar a participação de outro palestrante, o professor Luiz Carlos Dias, que liderando o Grupo de Síntese Orgânica do Instituto de Química da Unicamp, desenvolveu uma rota para síntese deste medicamento, que é uma estatina. Como sua patente caducou agora em junho, temos então uma rota alternativa exequível para acesso sintético ao fármaco”.
Carlos Roque Correia, do IQ da Unicamp: instigando os jovens participantes da ESPCA a conhecer o lado humano dos laureadosCarlos Roque Duarte Correia, professor IQ da Unicamp, concederá palestra nesta quarta-feira sobre seus estudos visando à montagem de moléculas orgânicas funcionais do ponto de vista biológico, farmacológico ou catalisador no desenvolvimento de novos materiais. Depois de assistir à aula do Nobel Kurt Wuthrich, Correia instigou os jovens da ESPCA a interagir com os laureados. “Os estudantes devem ver o Nobel não apenas pela ciência que levou a um prêmio desta grandeza, mas também o seu lado humano, interagindo com ele e desmistificando a ideia de alguém inacessível. Este é um evento excepcional e acredito que há espaço para outras iniciativas no Brasil, que vem ganhando projeção internacional e atraindo pesquisadores interessados em conhecer a nossa ciência”.
Jerson Lima Silva, diretor da ABC: o cientista, como o futebolista, precisa de treinamento, da escolha certa e de motivaçãoJerson Lima Silva, professor da UFRJ e diretor da Academia Brasileira de Ciências, inspirou-se igualmente em Kurt Wuthrich para falar da importância de uma ESPCA para a formação dos jovens participantes. “Esta última palestra foi bastante ilustrativa: para ser um bom cientista, como um bom jogador de futebol, é preciso treinamento e, também, saber aonde se quer chegar e fazer as escolhas certas nas horas certas. O jovem, que tem muita energia, corre o risco de correr de um lado para outro e se dispersar, acabando por não focar uma área importante. E não basta escolher o problema certo, mas aquele que ele terá condições de estudar e alcançar resultados usando tanto sua capacidade técnica como intelectual – a motivação estética”.
Jerson Silva, que teve “um pequeno treino” nas áreas de espectroscopia e de proteínas nos Estados Unidos, falaria no final da tarde sobre suas pesquisas, que seguem a linha de Kurt Wuthrich. “Utilizo a chamada ferramenta de pressão hidrostática para estudar como as proteínas se dobram e como fazer isso de forma reversível – como no exemplo do cinto do professor Kurt, que é esticado e depois volta a dobrar quando a pressão é liberada. Meu interesse está nas proteínas que se dobram de forma errada e causam doenças, como Alzheimer e Parkinson. Outra linha de pesquisa envolve a P53, proteína importantíssima como fator de supressão tumoral e que aparece mutada em 50% dos cânceres, o que é um sinal de prognóstico”.
Paulo Mourão, da UFRJ: destacando o excelente nível das palestras e o convívio dos alunos brasileiros com os estrangeirosOutro palestrante brasileiro da terça-feira foi o professor Paulo Mourão, da UFRJ, cujo trabalho envolve polissacarídeos sulfatados, moléculas diferentes daquelas tratadas nas apresentações anteriores, concentradas basicamente em proteínas e ácidos nucleicos. “Trabalhos com carboidratos e encontramos em laboratório estruturas novas, polissacarídeos com propriedades bem diferentes e envolvidos em eventos biológicos significativos. São moléculas que também podem ter aplicações terapêuticas no futuro”.
Paulo Mourão elogiou o excelente nível das palestras da ESPCA da Fapesp, ressaltando a importância de reunir estudantes brasileiros e estrangeiros e do convívio com cientistas de renome mundial. “Os nossos alunos têm pouco oportunidade de viver esse contato, diante do problema da distância entre o Brasil e os países que sediam congressos mais internacionais mais frequentes. É um problema a resolver, pois precisamos de ciência de nível internacional, competitiva, e que os jovens têm que aprender”.
Unicamp Assessoria de Imprensa