Segundo ele, cerca de 80% do acervo estão relacionados à pesquisa, sobretudo do Departamento de Botânica do ICB e de áreas como genética, farmácia e química. Mas a coleção também inclui amostras recebidas em permutas com outros herbários nacionais e internacionais e depositadas por empresas de consultoria.
Coleção de plantas secas e prensadas afixadas em cartolinas, um herbário tem, segundo Salino, cinco funções principais. Além de armazenar exemplares de referência da flora, oferece meios para identificação de plantas através da comparação de espécimes; mantém banco de dados sobre plantas, o que permite a realização de pesquisas científicas na área de botânica e ecologia; preserva espécimes-testemunhos de estudos genéticos, ecológicos, químicos e fitogeográficos; e pode ser usado na formação de recursos humanos, em especial no ensino de graduação e de pós-graduação.
“Os herbários são essenciais para pesquisas em sistemática vegetal e para preparação de monografias e floras”, explica o professor, ao destacar que uma coleção ampla, grande com quantidade de exemplares de cada táxon (unidade taxonômica, associada a um sistema de classificação científica), é de extrema importância e insubstituível. Segundo ele, as coleções depositadas em herbários permitem a pesquisa de fenologia, distribuição geográfica e conservação de espécies, bem como a recuperação de informações sobre a situação de ambientes já não mais existentes.
Impacto ambiental
Muitos consultores que lidam com licenciamento ambiental utilizam o herbário da UFMG para depositar exemplares de suas coletas. “A lei exige que empresas – mineradoras, por exemplo – façam estudo de impacto ambiental, com levantamento de espécies da região em que atuam, e depositem esse material em uma coleção científica”, explica Alexandre Salino.
Do mesmo modo, pesquisadores de diversas áreas precisam depositar no herbário um exemplar-testemunho de cada espécie analisada em seus estudos. Consultores também acessam o acervo do BHCB para identificação de espécies. “Às vezes a pessoa já sabe a família e o gênero, mas não sabe a espécie. Aqui ela manuseia o exemplar e usa o método de identificação por comparação”, informa.
De acordo com Salino, Minas Gerais possui 18 herbários, que abrigam cerca de 432 mil exemplares. Contudo, ao considerar que o estado detém a flora mais rica do país, com mais de 11 mil espécies de plantas (cerca de 20% do conjunto da flora brasileira), “pode-se afirmar que há ainda uma enorme lacuna de coleta em várias regiões de Minas”.
Na UFMG
O herbário BHCB teve o seu primeiro espécime registrado em abril de 1969, e até o ano 2000 relacionava 50 mil registros. Originalmente a coleção era composta quase exclusivamente das chamadas plantas medicinais e de exemplares recebidos como doação. Em 2000, além da criação do programa de pós-graduação em Biologia vegetal, o BHCB incorporou dez mil espécimens anteriormente pertencentes a coleção do herbário do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG.
“A coleção que foi incorporada possui uma quantidade significativa de material coletado nas décadas de 1940 e 1950, e permitiu o aumento da coleção quanto a espécimens de interesse histórico e de espécies vegetais de áreas que hoje estão totalmente urbanizadas”, comenta Salino. De 2000 até o momento o BHCB passou de 50 mil para 150 mil espécimens.
Cerca de 76% do acervo do herbário estão informatizados, projeto para o qual contou com apoio do Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF-MG). “Atualmente o BHCB é membro do projeto INCT Herbário Virtual da Flora e dos Fungos, que tem por objetivo tornar livre e aberto o compartilhamento de dados e informações não sensíveis de herbários”, diz Salino, ao destacar também a participação do BHCB em projeto de formação de herbário virtual que trará ao Brasil amostras vegetais depositadas na Europa entre os séculos 18 e 20.
Coincidência
Cada botânico tem o seu número de coleta, composto pelo próprio nome, seguido de numeração. “Comecei a coletar em 1986, ainda como estudante de graduação”, relembra Salino, ao comentar a coincidência ocorrida com o registro 150 mil do BHCB: “é também meu registro pessoal de número 15 mil”.
Ele explica que as coletas seguem critérios, como a raridade ou características exigidas por determinados projetos de pesquisa. “Mas sempre respeitando a legislação brasileira, que define, por exemplo, a necessidade de licença para coleta em unidade de conservação”, ressalta.