A análise integra as ações do Grupo de Estudo sobre a Linguagem, cadastrado no CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). A equipe conta com pesquisadores de outras unidades e é liderada por Luciani e pelo também linguista Lourenço Chacon Jurado Filho, professor da Faculdade de Ciências e Letras, Câmpus de Marília.
Evolução
Descumprir a ortografia foi o problema gramatical mais comum nas classes de 6ª e 7ª séries, enquanto nas 8ª e 9ª a maior dificuldade foi a pontuação. Luciani afirma que, embora tenham sido encontradas redações bem escritas, a maioria dos textos também apresentava problemas de incoerência e falta de sentido. “Percebemos que muitos deles não são capazes de expressar o que pensam por meio da escrita, não argumentam com clareza, não concluem as ideias.”
Consulta ao acervo
A pesquisa foi feita com recursos da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e é uma das poucas do país a investigar as séries finais do ensino fundamental. A maior parte desse tipo de análise está focada na fase pré-vestibular ou nas etapas iniciais da educação (1ª a 4ª séries).
As redações recolhidas foram escaneadas e também digitadas e gravadas em formato de arquivo de texto, recurso que permitirá aos pesquisadores trabalhar com trechos específicos das redações dos alunos. Um site está sendo construído e deve disponibilizar, ainda este ano, o material on-line para a consulta de estudiosos de todo o país.
Reforço escolar
Além da pesquisa científica, o grupo também realiza o projeto de extensão “Desenvolvimento de Oficinas de Leitura, Interpretação e Produção de Textos no Ensino Fundamental”. São minicursos de redação, gramática e leitura ministrados nas dependências da escola participante do estudo. Os alunos frequentam o reforço fora do horário em que estão matriculados - à tarde, para estudantes do período matutino; de manhã, para os do vespertino.
As aulas são dadas por graduandos e pós-graduandos do Ibilce. “Nessas oficinas, procuramos trabalhar de forma integrada, enfatizando as questões de ortografia e pontuação, mas também estimulando a leitura, o senso crítico e a capacidade argumentativa”, detalha Luciani. O projeto tem apoio da Pró-Reitoria de Extensão.
Por conta dessa interação, uma das professoras da escola, Vanessa Cristina Pavezi, passou a integrar o grupo de pesquisa. Ela cursou mestrado no Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos no Ibilce e, atualmente, faz seu doutorado, com bolsa oferecida pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.
Por que os estudantes erram?
Um estudo de mestrado de Marília Costa Reis com base nas redações recolhidas aponta algumas tendências linguísticas dessas grafias incorretas. Ela traçou as diretrizes ao observar “pistas” deixadas pelos autores dos textos.
Segundo a pesquisadora, os alunos erram por dois motivos: utilizam uma escrita semelhante à pronúncia das letras, como em “ingenheiro”, “pidido”, “mueda”; ou por hipercorreção, um termo da linguística que caracteriza o fenômeno em que o escrevente da língua parte de uma hipótese errada para adequar uma palavra à norma padrão. Alguns dos exemplos de hipercorreção detectados pela estudiosa são “enfância” e "molher".
Sob o título "O oral/falado e o letrado/escrito: um olhar para as grafias das vogais pretônicas", a dissertação será defendida em 26 de maio, no Ibilce, com orientação de Luciani. Para a professora, os alunos cometem esses erros porque não praticam o hábito da leitura.
Unesp Assessoria de Comunicação e Imprensa