É uma parceria privilegiada. Esperamos que não seja a última”, afirmou o secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão Pires Júnior. Ele assinou o convênio com a universidade nesta quinta-feira. O objetivo da parceria é desenvolver um programa contra a exploração sexual, a migração irregular e a deportação no Brasil, em Portugal e na Espanha.
A professora Maria Lúcia Leal, coordenadora do Violes, afirma que uma das principais atribuições do estudo será aprimorar a qualidade das informações sobre a exploração sexual. “Homens, mulheres e transexuais devem saber como é a situação real de quem vive como traficado”, afirma. “Nosso papel nesse primeiro momento é levantar todos os núcleos de pesquisas, as pesquisas e os atores para que o Ministério possa mobilizá-los”, explica. Após esse apanhado, será feita uma oficina para definir a metodologia da pesquisa.
De 1990 até 2010, a Polícia Federal instaurou 820 inquéritos policiais contra o tráfico de pessoas no Brasil. Cada mulher aliciada pelo tráfico rende até US$ 30 mil por ano para o crime organizado. De acordo com estimativas do Escritório sobre Drogas e Crimes das Nações Unidas (UNODC), 75 mil mulheres são aliciadas pelo tráfico de pessoas para exploração sexual.
O secretário afirma que a primeira deficiência do governo está na criação de uma metodologia de levantamento de dados sobre o tráfico de pessoas. “Precisamos formular um modelo que possa dar sustentação global ao Brasil e elucidasr os princípios e as diretrizes teóricas, para aprimorarmos nosso discurso sobre o tema”, disse o secretário.
A professora Maria Lúcia acredita que esse é um momento importante para a universidade, pois ele pode mostrar sua capacidade de dialogar com a sociedade e com o Estado. “Temos que agrupar muldisciplinarmente o conhecimento da academia e colocá-lo a serviço da sociedade para aprofundar o diagnóstico do problema”, afirma. “Os ministérios do trabalho, da saúde, da educação e as secretarias de direitos humanos devem conversar com essas mesmas áreas da universidade. Temos que nos integrar tendo como mediadores os sujeitos que estão sendo explorados”.
O Violes é um grupo de pesquisa sobre violência e exploração sexual comercial de mulheres, crianças e adolescentes. Criado em junho de 2002, atua junto à sociedade civil com intuito de articular demandas dos movimentos sociais junto ao governo, visando elaborar políticas públicas.
A VIDA DE WANESSA - A 5ª edição da revista DARCY contou a história de Wanessa Victoria Feitosa. A jovem de 20 anos tem o perfil que os aliciadores procuram. A mãe era viciada em drogas, o pai e o padrasto a estupraram. Wanessa sempre viveu em situações de vulnerabilidade. A venda do corpo começou aos 15 anos. Ela conta que escolhia homens educados, carinhosos e ricos. O programa custava entre R$ 200 e R$ 300. Wanessa usava o dinheiro para comprar roupas e frequentar festas.
Iludida, ela embarcou com duas amigas em uma viagem rumo à República da Venezuela, a 215 quilômetros de distância de Boa Vista. “Durante a viagem, as meninas saíram do táxi e entraram num carro. A cada quilômetro, elas não sabiam, mas já adquiriam uma dívida que iriam pagar mais tarde com a venda de seus corpos. O transporte era uma pequena parte do débito, que se ampliou com a alimentação, o uso de drogas e o aluguel do cubículo onde eram presas”, conta a reportagem de Cecília Lopes.
A exploração rendia R$ 6 por noite, independente do número de clientes que atendia. Sexo sem preservativo, abortos mecânicos e hormônios para impedir a menstruação viraram rotina. “Na boate, poucas meninas podiam andar pelo salão. As que tinham menos de 18 anos ficavam presas nos quartos esperando ser chamadas. Cerca de 30 meninas eram exploradas no local – a maioria, brasileiras. Os tipos físicos revelavam que os aliciadores buscavam garotas em todas as regiões do Brasil”, diz o texto. Leia aqui a íntegra da reportagem.
UnB Agência