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As cenas de terror na escola do Realengo, no Rio de Janeiro, alertam para a dimensão pedagógica da violência na educação brasileira. Segundo especialistas da Universidade de Brasília, o comportamento de Welington Menezes de Oliveira, 23 anos, pode ter sido influenciado por uma passagem frustrada como aluno no local da chacina. “Ele poderia ter feito em qualquer lugar, mas escolheu a sala de aula. A escola se tornou um símbolo de violência”, avalia o professor Cristiano Alberto Muniz.
Especialista em educação, ele afirma que o trabalho pedagógico pode, sim, ter sido o motor propulsor do assassinato das 12 crianças e do suicídio do autor. “Quando a escola só revela a incapacidade do aluno ela se torna um alvo potencial de agressões”, explica. Segundo o professor, a falta de incentivos ao desenvolvimento de valores como a auto-estima e o afeto pode ser interpretada como uma violência simbólica em sala. “Ele pode ter tido o desejo de destruir o que o estava destruindo”, completa.

Cristiano destaca o local escolhido para descarregar a arma de fogo. “As mortes poderiam ter ocorrido na rua ou no parquinho da escola, mas ele foi direto para a sala de aula”, observa. O especialista, no entanto, alerta que é preciso cautela pela complexidade do caso. “Deve-se avaliar todo o contexto e o passado do rapaz e isso não quer dizer que todo jovem frustrado torna-se um assassino em potencial”, diz. “É a soma de vários fatores que geram um desvio de comportamento dessa natureza”.

Para Remi Castione, especialista em educação infantil, o caso que chocou o país nesta quinta-feira serve de alerta para o despreparo das escolas brasileiras. “Hoje, a sociedade relega às instituições de ensino responsabilidades sobre todas as dimensões da vida dos alunos, como, por exemplo, a falta de uma educação adequada em casa”. Para o professor, a falta de estrutura para suprir essa expectativa é um dos fatores que gera o fenômeno da crescente violência nas escolas, testemunhado nos últimos anos. 

REFORMULAÇÃO – Os especialistas divergem sobre o quanto a tragédia carioca representa um caso isolado de agressividade extrema na educação. “Sem dúvida é um alerta, mas foi uma ação separada que não justifica ações extremas de segurança”, acredita Remi. Já Cristiano Muniz não crê que a chacina tenha sido um fato isolado. “A violência extremista que tem o sentimento de frustração no ambiente escolar como um dos motores é um fenômeno mundial que, agora, chega ao Brasil”.

A dupla, no entanto, se une para reforçar que a chacina serve de alerta para uma reformulação tanto do trabalho pedagógico em sala como da estrutura que envolve o ambiente escolar no país. “A escola deve estar cada vez mais aberta à participação da comunidade e precisa da ação integrada de outras áreas do Estado para cumprir sua missão, como a segurança e a assistência social”, diz Remi. “Os professores devem ser orientados sobre quais os valores devem ser estimulados em sala”, afirma Muniz. 

NO DF – A subsecretária de Educação do Distrito Federal, Gícia Falcão, afirma que a chacina no Rio de Janeiro não vai mudar o esquema de segurança nas 649 escolas do Distrito Federal. “Toda pessoa que se identifica pode entrar em uma escola de Brasília”, conta a porfessora. “Acreditamos que as instituições de ensino devem estar abertas à comunidade e confiamos no trabalho de prevenção por meio da educação de nossos estudantes para evitar outros casos lamentáveis de violência como esse ocorram”, diz. 

UnB Agência