Especialista em educação, ele afirma que o trabalho pedagógico pode, sim, ter sido o motor propulsor do assassinato das 12 crianças e do suicídio do autor. “Quando a escola só revela a incapacidade do aluno ela se torna um alvo potencial de agressões”, explica. Segundo o professor, a falta de incentivos ao desenvolvimento de valores como a auto-estima e o afeto pode ser interpretada como uma violência simbólica em sala. “Ele pode ter tido o desejo de destruir o que o estava destruindo”, completa.
Cristiano destaca o local escolhido para descarregar a arma de fogo. “As mortes poderiam ter ocorrido na rua ou no parquinho da escola, mas ele foi direto para a sala de aula”, observa. O especialista, no entanto, alerta que é preciso cautela pela complexidade do caso. “Deve-se avaliar todo o contexto e o passado do rapaz e isso não quer dizer que todo jovem frustrado torna-se um assassino em potencial”, diz. “É a soma de vários fatores que geram um desvio de comportamento dessa natureza”.
Para Remi Castione, especialista em educação infantil, o caso que chocou o país nesta quinta-feira serve de alerta para o despreparo das escolas brasileiras. “Hoje, a sociedade relega às instituições de ensino responsabilidades sobre todas as dimensões da vida dos alunos, como, por exemplo, a falta de uma educação adequada em casa”. Para o professor, a falta de estrutura para suprir essa expectativa é um dos fatores que gera o fenômeno da crescente violência nas escolas, testemunhado nos últimos anos.
REFORMULAÇÃO – Os especialistas divergem sobre o quanto a tragédia carioca representa um caso isolado de agressividade extrema na educação. “Sem dúvida é um alerta, mas foi uma ação separada que não justifica ações extremas de segurança”, acredita Remi. Já Cristiano Muniz não crê que a chacina tenha sido um fato isolado. “A violência extremista que tem o sentimento de frustração no ambiente escolar como um dos motores é um fenômeno mundial que, agora, chega ao Brasil”.
A dupla, no entanto, se une para reforçar que a chacina serve de alerta para uma reformulação tanto do trabalho pedagógico em sala como da estrutura que envolve o ambiente escolar no país. “A escola deve estar cada vez mais aberta à participação da comunidade e precisa da ação integrada de outras áreas do Estado para cumprir sua missão, como a segurança e a assistência social”, diz Remi. “Os professores devem ser orientados sobre quais os valores devem ser estimulados em sala”, afirma Muniz.
NO DF – A subsecretária de Educação do Distrito Federal, Gícia Falcão, afirma que a chacina no Rio de Janeiro não vai mudar o esquema de segurança nas 649 escolas do Distrito Federal. “Toda pessoa que se identifica pode entrar em uma escola de Brasília”, conta a porfessora. “Acreditamos que as instituições de ensino devem estar abertas à comunidade e confiamos no trabalho de prevenção por meio da educação de nossos estudantes para evitar outros casos lamentáveis de violência como esse ocorram”, diz.
UnB Agência