Em 2010, a universidade teve 51.000 candidatos, e admitiu 1 para cada 15 para seus programas de grau profissional.
Este tipo de experiência já foi realizado por outras instituições no passado, como uma tentativa de resolver questões de igualdade, procedimentos para seleção de alunos e características do ensino de graduação no Brasil.
Nos últimos anos, o ensino superior tem se expandido significativamente no Brasil, mas o acesso às instituições de maior prestígio e à formação acadêmica ainda está fortemente relacionado ao status socioeconômico, que por sua vez tem relação com a educação, etnicidade e local de residência da família.
O governo Lula colocou como alta prioridade o aumento do acesso, estimulando quotas de admissões em universidades públicas gratuitas, por raça e benefício a estudantes procedentes de escolas públicas, aumentando o orçamento das universidades públicas que quisessem aumentar as admissões e concedendo isenção de imposto a instituições privadas que quisessem admitir determinado número desses alunos gratuitamente. De forma geral, o acesso não deveria ser um problema. Em 2009 o Brasil formou quase 2,1 milhões de estudantes na escola secundária e teve 3,1 milhões de vagas no ensino superior, mas apenas admitiu 1,7 milhões para estudarem em universidades. A maioria das vagas não preenchidas em instituições privadas são virtuais. A competição às vagas em instituições públicas gratuitas e de prestígio como a UNICAMP pode ser violenta, e devido à má qualidade do ensino público secundário, há poucos candidatos que preenchem as exigências das melhores instituições. É possível aumentar o acesso a estas instituições, forçando a admissão de mais alunos (e menos qualificados). Algumas instuições podem estar baixando seus padrões, ou não permitindo que os menos qualificados cheguem a se formar. Outros, entretanto, estão criando programas especiais para estudantes não-competitivos, abrindo cursos vespertinos ou criando novas carreiras vocacionais.
No Brasil, os estudantes são admitidos diretamente a uma carreira profissional, como na Europa continental, e demora uns quatro anos para completarem o curso, e mais do que isso para Engenharia e Medicina. O fato de que os estudantes tenham que escolher sua carreira aos 18 anos tem sido motivo preocupante por muitos anos, e já houve diversas tentativas, nenhuma bem-sucedida (a primeira com a reforma universitária de 1968), de criar um primeiro ciclo, “ciclo básico” de educação geral de dois anos. O processo de Bolonha na Europa renovou o interesse por esta nova abordagem, e algumas intituições, tais como as universidades federais da Bahia e do ABC (o cinturão industrial de São Paulo) a introduziram novamente nos últimos anos.
Não ficou claro por que as experiências anteriores com ciclos básicos ou ensino do tipo “College” falharam, mas uma explicação possível pode ser que esses cursos não tinham propriedade acadêmica, e foram encarados tanto pelos alunos quanto pelos docentes como uma perda de tempo. A outra razão é que a maioria dos estudantes ingressa no curso superior quando já são mais velhos, estudam à noite, e querem obter sua certificação profissional o quanto antes.
Cada instituição tem seu próprio processo de admissão, e em cidades grandes, muitas universidades públicas se unem para realizar um vestibular unificado, geralmente em duas fases, uma mais geral, a segunda por área de estudo, e os estudantes são selecionados de acordo com suas notas e opções. O governo federal está trabalhando no sentido de substituir este sistema por um vestibular unificado nacionalmente, acreditando que isto aumentaria a mobilidade estudantil e o acesso. Atualmente, é um teste de dois dias, extensivo, com base em conteúdo, e a maioria das universidades de hoje dão algum peso para o ENEM em seu processo de admissão. Para 2011, o Ministério da Educação anunciou que 83.000 lugares, dentre 393.000 vagas em 83 instuições públicas seriam preenchidas por este sistema unificado. A Universidade Federal do Rio de Janeiro decidiu admitir 20% de seus alunos através de programas de quotas e outros 40% de acordo com suas notas no ENEM. O ENEM está ganhando popularidade como ferramenta de admissão. Em 2010, 4,6 milhões de estudantes inscritos para o teste, e um milhão se candidataram para os 82.000 lugares em instituições públicas para o ano acadêmico de 2011.
O ENEM foi prejudicado com problemas de implantação, e tem sido criticado por obstruir a diferenciação no ensino secundário, por impor um curriculum extensivo e uniforme para todos os estudantes. Ainda não está claro que efeito esta mudança para um exame nacional terá sobre as questões de acesso e justiça no acesso ao ensino superior como um todo.
Se bem-sucedido, o experimento da UNICAMP pode estabelecer um padrão para outras universidades seguirem. Um teste crucial será verificar se os alunos admitidos através deste novo procedimento terão condições de entrar e completar com sucesso o programa de formação profissional da universidade.
Por Simon Schwartzman
Comunicação Social
Comvest-Unicamp