“A vida deles é outra. É marcada pela ausência dos privilégios do nascimento que caracterizam as classes médias e alta. Não falo só de dinheiro transmitido por herança. Os privilégios envolvem também o recurso mais valioso das classes médias: o tempo”, disse.
Segundo o professor, “os batalhadores, em sua esmagadora maioria, precisam começar a trabalhar cedo e estudam em escolas públicas de baixa qualidade”, possuem alto esforço pessoal e aceitam superexploração de mão de obra.
Como valores, essa faixa da população preza pela “ética articulada do trabalho duro”, incorporam e internalizam a tríade disciplina, autocontrole e pensamento positivo. A religião para esse grupo oferece, conforme o professor, “o que a sociedade como um todo, o Estado ou mesmo algumas das famílias menos estruturadas dessa classe jamais deram a eles: confiança em si mesmos, autoestima, esperança e força de vontade para vencer as enormes adversidades da vida sem privilégios de nascimento.”
Conceitos
Na visão do professor da Faculdade de Economia, Wilson Rotatori, se considerada apenas a renda e a capacidade de consumo para classificar as classes, houve a passagem dos 30 milhões de brasileiros para o estrato médio. “Quando se olha a ascensão por outros critérios, utilizam-se conceitos de classes diferentes daqueles empregados pela economia.”
O professor considera que é necessário investigar se programas sociais desenvolvidos no Brasil estão permitindo ou permitirão o acesso dessa população aos bens culturais, como é o caso do ingresso mais amplo atualmente no ensino superior. Afirma ainda que a expansão do consumo possibilitou aos integrantes da nova classe média o uso de itens restritos às classes mais altas.
Rotatori, doutor em Economia, lista alguns fatores que possibilitaram a expansão da classe C: acesso a crédito, redução do nível de desemprego, efeitos da crise econômica externa de 2009 terem sido menos intensos no Brasil e o investimento em programas sociais.
Sob o critério de renda, a nova classe média brasileira é composta por 52% da população economicamente ativa. São 92,8 milhões de pessoas com salário mensal variável entre R$ 1.115 e R$ 4.807.
Serviço:
Jessé Souza (Org.). Os batalhadores brasileiros – nova classe média ou nova classe trabalhadora? Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. 354 páginas. Em média, R$ 56.
Leia a íntegra da entrevista do professor Jessé Souza à Folha de S. Paulo.