A lista, que existe desde 1951, inclui apenas três especialistas da América Latina, que são do México, da Colômbia e da Venezuela. A Inglaterra é o país que aparece com maior número de micologistas, um total de oito. Em seguida, vem a Suécia, com quatro, e a Holanda, com três. A inclusão de um novo membro só acontece quando um deles morre. A última entrada foi no ano passado. Veja aqui a lista.
A coleção micológica da UnB começou a ser montada em 1993 com recursos da Fundação Banco do Brasil e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e parceria de professores e alunos que desenvolvem pesquisas em micologia no laboratório como parte de projeto de mestrado e doutorado. Alguns dos alunos são hoje professores em universidades brasileiras e um leciona no Chile. “O aluno é o apoio mais importante às pesquisas em qualquer universidade”, comenta Dianese.
As amostras foram recolhidas em expedições a vários estados do Brasil. Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Distrito Federal, Rondônia, Tocantins, Sul do Maranhão e Piauí, principalmente em reservas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Ibama). Aproximadamente 2 mil delas já foram pesquisadas. As demais escondem novidades ainda não exploradas pelos pesquisadores.
FUNGOS - Segundo Dianese, os fungos são de extrema importância para a agricultura. “Mais de 70% das doenças de plantas cultivadas são causadas por fungos. Além disso, mais de 4 mil espécies são patogênicos ao homem e aos animais”, explica.
Na área médica, os fungos são responsáveis pela produção de vários antibióticos e tiveram papel fundamental na expansão dos transplantes de órgãos. “O metabólito fúngico denominado ciclosporina, um imunodepressor, permitiu o uso amplo de transplantes de órgãos ao controlar a rejeição nos pacientes”, explica Dianese. Na alimentação, os fungos são usados in natura ou em conserva e são importantes na produção de queijos especiais, pães e a fermentação de bebidas como vinho, whisky e cachaça. Já na agricultura, esses microorganismos são um importante aliado no repovoamento de áreas degradadas, além de serem os grandes responsáveis pela ciclagem do material vegetal na natureza.
Pesquisadores estimam que existam 1,5 milhão de espécies de fungos no mundo. “Mas conhecemos só pouco mais de 5% delas, sendo que as desconhecidas são em sua grande maioria oriundas dos trópicos”, revela Dianese.
CRESCIMENTO - A coleção de fungos em plantas do Cerrado sucedeu outras atividades desenvolvidas pelo professor Dianese na UnB. Ele chegou à universidade em julho de 1971 e já em 1972 se tornou diretor do Instituto de Ciências Biológicas por indicação dos professores Lobato Paraense e Mateus Ventura.
Como diretor, deu início à implantação do que é hoje o Departamento de Fitopatologia. Inicialmente trouxe para a UnB colegas seus da Universidade da Califórnia, onde se doutorou em 1970, os fitopatologistas Hasan Bolkan, Chaw Shung Huang e Ming-Tien Lin. Trouxe do Instituto Agronômico de Campinhas os virologistas Elliot Kitajima, Cláudio Lúcio Costa e Francisco Pereira Cupertino, com apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Ministério da Agricultura.
Dianese liderou também a implantação do que é hoje o Departamento de Ecologia. “Naquela época falar de ecologia era quase um crime”, lembra. Graças a um auxílio individual do CNPq, trouxe à UnB por um mês o professor David Ross Gifford, da Universidade de Edinburgh, na Escócia. Com ele, então elaborou a base do projeto que resultou em um financiamento de US$ 1,5 milhão da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para construir laboratórios e contratar professores estrangeiros. Assim, trouxe do Reino Unido, além de David Gifford, Peter Furley, James Ratter, Colin Johnson, e da Alemanha Reimar Schaden.
CARREIRA - Natural de Santo Antônio do Monte, em Minas Gerais, José Carmine Dianese se formou em Agronomia na Universidade Federal de Viçosa, em 1962. Dois anos depois, concluiu mestrado em Fitopatologia na mesma universidade. Em 1968, outro mestrado e o doutorado, em 1970, ambos na Universidade da Califórnia-Davis. Foi o segundo brasileiro a se doutorar em Fitopatologia nos Estados Unidos.
De volta ao Brasil, foi convidado para lecionar na UnB. Chegou à universidade em 1971. No ano seguinte, foi convidado para dirigir o Instituto de Ciências Biológicas, cargo que ocupou até 1978. Aos 70 anos e aposentado, é atualmente coordenador do programa de pós-graduação em Fitopatologia. Já orientou 30 estudantes de pós-graduação, 26 mestrados e seis doutorados, sendo 13 de professores universitários, seis deles da UnB. “Tudo o que consegui ao longo da minha carreira acadêmica, devo à UnB. Toda minha produção acadêmica foi gerada aqui, sempre procurando cumprir com os ideais dos fundadores da UnB: trabalhar problemas brasileiros seguindo padrões internacionais”, afirma Dianese.
Além do reconhecimento da Sociedade Americana de Micologia, Dianese ocupou cargos importantes em várias entidades importantes da área, muitas das quais ainda é membro. Entre elas, a Sociedade Latinoamericana de Micologia, da qual foi presidente. Ao longo da vida acadêmica, publicou 100 trabalhos, sendo 57 em periódicos estrangeiros, e foi palestrante de vários congressos internacionais. Atualmente, organiza o VI Congresso Brasileiro de Micologia, que será realizado entre os dias 29 de novembro e 2 de dezembro deste ano em Brasília.
UnB Agência