O historiador também era um dos mentores da Biblioteca Brasiliana, projeto que incluía a construção de uma biblioteca na USP e a digitalização de cerca de 40 mil volumes que integravam a Biblioteca Guita e José Mindlin, doada à USP em 2006. Jancsó foi internado poucos dias antes da morte do bibliófilo e empresário Mindlin, ocorrida no dia 28 de fevereiro.
De acordo com a historiadora Wilma Peres Costa, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), no campus de Guarulhos, e integrante do Projeto Temático, Jancsó tinha um perfil intelectual peculiar.
“Além de uma cultura rara – veio da Hungria ainda na infância, dominava várias línguas e se interessava por várias culturas –, ele tinha uma inquietação muito forte, que era a de entender a parte dentro do todo. Ou seja, ele sempre olhou com muita curiosidade a complexidade e a multiplicidade do país”, disse Wilma à Agência FAPESP.
Segundo ela, um das principais características de Jancsó como pesquisador era o de formar jovens cientistas. “Ele acompanhava o aluno da iniciação científica até o doutorado. Estava aposentado e muito feliz porque recentemente havia reunido cinco alunos da graduação para iniciação científica. Era um homem que sempre tinha tempo no que se referia à pesquisa e atenção aos alunos”, disse Wilma.
Outro ponto destacado por ela é o sentimento de coletividade. “Para ele, não bastava trazer o acervo de Mindlin para a USP. Era preciso digitalizá-la, de modo a permitir o livre acesso para todos. Podemos dizer que Jancsó foi um dos formadores das condições de trabalho da pesquisa histórica no Brasil. Era um homem empreendedor”, destacou.
O Projeto Temático coordenado por Jancsó gerou 22 livros, seminários, diversas teses e dissertações, além da revista Almanack Braziliense, que reúne a contribuição à historiografia brasileira que é feita continuamente por estudiosos envolvidos com os estudos do tema.
Historiador do Brasil
A vida e a trajetória intelectual do historiador será contada em livro. Um historiador do Brasil, István Jancsó já está no prelo e teve a participação direta do próprio. Os autores Andrea Slemian, Marco Morel e André Micásio Lima colheram depoimentos do historiador ao longo de dois anos. O livro será lançado pela editora Hucitec.
“Começamos pela infância, quando ele chegou da Hungria. Foi professor na Maria Antônia, depois na USP, saindo em seguida devido ao golpe de 1964, quando foi lecionar na Universidade Federal da Bahia”, disse Andrea.
A pesquisadora foi orientanda de Jancsó no mestrado e no doutorado. Atualmente, cursa o pós-doutorado no IEB, com Bolsa da FAPESP, orientada pelo professor José Reinaldo de Lima Lopes, da mesma instituição.
Segundo ela, na UFBA Jancsó se envolveu com o movimento sindical contra a ditadura, seguindo para França como exilado político para fazer o doutorado, após o Ato Institucional número 5 (AI-5), em 1968.
“Ele foi preso e torturado quando voltou ao Brasil. Junto com os operários paulistas, ajudou a consolidar o movimento Oposição Sindical, conhecido como OP. Essa fase é um dos pontos altos do depoimento que publicaremos no livro”, conta Andrea.
Apesar disso, Jancsó não admitia que o rotulassem de “comunista”. “Dizia que era um homem de esquerda. Ele nunca se identificou com os comunistas por uma questão pessoal, porque para ele comunistas foram os que entraram na Hungria e não os que foram expulsos de lá”, disse Andrea.
Atualmente, István Jancsó orientava três projetos de iniciação científica, três de mestrado, cinco de doutorado, supervisionando três estágios pós-doutorais. Ocupava o cargo de editor da revista eletrônica de Almanack Brasiliense e integrava o conselho editorial de cinco revistas especializadas.
Agência FAPESP