"A cidade impermeável é como se fosse um 'selo' de concreto, onde praticamente toda a água da chuva vai para o sistema de drenagem, que fica sobrecarregado", explicou Santos, que também discutiu os deslizamentos, suas causas e algumas medidas possíveis. "O escorregamento de solo e de rochas nada mais é que a Natureza procurando uma situação de equilíbrio", definiu.
O geólogo chamou a atenção para o uso equivocado do termo "desastres naturais" para se referir a esses fenômenos urbanos. "Os desastres naturais são aqueles sobre os quais os homens não podem interferir. São os casos, por exemplo, de maremotos e vulcanismos. Mas as enchentes e deslizamentos são fenômenos diretamente ligados à ação do Homem", ressaltou.
Ao descrever uma dessas ações – a impermeabilização do solo –, Santos criticou a cultura de que as árvores causam sujeira. "Temos uma cultura urbana para o ajardinamento com grama, seguindo o modelo europeu. A grama é pouco mais permeável que o asfalto, permitindo pouca infiltração. No nosso caso, a floresta e os bosques cumprem muito melhor esse papel de injetar a água no lençol freático", comparou.
Além da impermeabilização, Santos apontou outras técnicas equivocadas que causam os desastres nas cidades, incluindo a canalização de rios e córregos, a engenharia de áreas planas – levando à erosão – e o espraiamento geográfico, isto é, a expansão das áreas urbanas, impermeabilizando áreas cada vez maiores. "A combinação ideal para a cidade é um ambiente concentrado aliado a um ambiente saudável e confortável para o Homem.” Nesse sentido, Santos defende, dentre outras ações, a verticalização das cidades.
Santos também rebateu ideias difundidas como, por exemplo, a de que o lixo urbano é o maior causador de enchentes. "Perto de outros casos, o lixo urbano é praticamente desprezível. Pode, sim, causar problemas localizáveis como um bueiro entupido. Mas, se observarmos as imagens de enchentes, vemos que a água volta do sistema de drenagem pela própria pressão da água em seu interior", detalhou. Comparado ao lixo urbano, a cultura da impermeabilização é mais grave. "Criminaliza-se o menino que joga um papel de sorvete no chão. Mas não se faz nada contra um supermercado, por exemplo, que impermeabiliza uma área de estacionamento, o que causa um prejuízo muito maior às pessoas", disse.
Soluções
Além do diagnóstico dos desastres, Santos concentrou esforços para mostrar soluções para enchentes e deslizamentos. Mas destacou: "Para uma primeira decisão para evitar esses problemas, é preciso parar de errar. E o Brasil não começou isso ainda."
Nos grupos de medidas estruturais e não estruturais, Santos apresentou ao público ideias diversas. Uma delas é a sarjeta drenante, que funciona com uma caixa, com cerca de um metro de profundidade, para retenção e infiltração da água das chuvas. As calçadas com áreas verdes e árvores, na sua opinião, também deveriam ser incentivadas pelos governos municipais, por meio de concursos e até redução do IPTU para imóveis com essas características. Ele também destacou a abundância na quantidade de água da chuva que poderia ser acumulada por reservatórios empresariais e domiciliares. "Precisamos abandonar essa cultura de que a água é um perigo e deve sair logo de nossa presença para tê-la como nossa amiga", sintetiza.
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