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Promover a colaboração entre infectologistas e equipes que atuam no transplante de órgãos sólidos e medula óssea foi o objetivo principal da Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA) em Doenças Infecciosas em Transplantes, realizada pelo Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP), com apoio da FAPESP.
Para Jay Fishman, professor da Harvard Medical School e diretor associado do Centro de Transplantes do Massachusetts General Hospital, nos Estados Unidos, a interdisciplinaridade é o caminho para a prevenção e o controle de infecções em pacientes transplantados.

“Nos últimos 20 anos muito se avançou no desenvolvimento de novas ferramentas de diagnóstico e novos fármacos, mas nada substitui o bom profissional. Muito do que aprendi foi no convívio direto com os pacientes e profissionais de diversas áreas, e a colaboração do meio científico é fundamental para que essas experiências se multipliquem e sejam utilizadas em favor da vida”, disse à Agência FAPESP.

No Massachusetts General Hospital, foi implementado um programa para melhorar as estratégias de tratamento clínico de pacientes imunodeprimidos com infecções fúngicas invasivas.

“Trata-se de um quadro extremamente perigoso após passar por transplante de órgãos sólidos. Em geral, essas infecções fúngicas estão associadas a altas taxas de mortalidade, que continuam a aumentar com a terapia inadequada ou demorada”, disse Fishman.

Segundo ele, muitos médicos prescrevem terapia antimicrobiana com agente antifúngico de largo espectro, atuando de forma menos precisa, até que as culturas sejam analisadas pelo laboratório de microbiologia e um agente antifúngico específico possa ser administrado.

“Essa prática, no entanto, leva muitas vezes, desnecessariamente, ao aumento dos custos de cuidados e riscos para a resistência antimicrobiana. Precisamos identificar mais rapidamente os pacientes com infecções fúngicas e melhorar os padrões de prática clínica nesses casos”, disse.

Para isso, o Massachusetts General Hospital criou o Transplant and Immunocompromised Host Infectious Disease Program, dirigido por Fishman.

“Nosso programa envolve profissionais com conhecimento especializado de gestão de antifúngicos na melhoria do atendimento clínico de pacientes que têm o sistema imunológico enfraquecido, mais frequentemente sujeitos a infecções fúngicas. Discutimos a criação de uma nova equipe, que incluiu farmacêuticos e microbiologistas clínicos, dedicada especificamente à gestão de antimicrobianos”, explicou.

A equipe conta com médicos especializados em doenças infecciosas em transplantes, farmacologistas e membros do Laboratório de Microbiologia Clínica (CML, na sigla em inglês) do hospital, com experiência em gestão de antifúngico.

Entre as estratégias desenvolvidas e implementadas está a identificação de pacientes que recebiam agentes antifúngicos por via intravenosa para infecções estéreis locais que também poderiam ser tratados com o fluconazol por via oral, um agente antifúngico semelhante, mas menos dispendioso e altamente eficaz quando tomado oralmente.

Segundo Fishman, a experiência foi seguida de estudos e elaboração de protocolos adotados por todos os profissionais do hospital. “O programa ainda está em execução e se expandiu para incluir protocolos-padrão para a implantação de agentes antifúngicos”, disse.

Muitos transplantes, pouca colaboração

Para Clarisse Martins Machado, coordenadora da ESPCA, essa e outras experiências compartilhadas na programação da escola realizada em outubro ajudam os profissionais brasileiros a avançar no trabalho colaborativo.

“O Brasil é um dos grandes transplantadores do mundo, com o maior programa público de transplante de fígado e de rim. Trata-se de pacientes imunodeprimidos e a questão das infecções é muito importante nesse cenário, mas ainda existe uma carência por colaborações de infectologistas com os demais profissionais de saúde que acompanham esses pacientes”, disse.

De acordo com Machado, a pouca colaboração está relacionada à formação dos profissionais. “Tradicionalmente, os grupos de transplantes de órgãos sólidos, que envolvem mais cirurgiões, são muito fechados. Os de medula óssea, compostos majoritariamente por hematologistas, são formados por especialistas mais acostumados a lidar com infecções, o que leva à ideia de que não é necessário convocar infectologistas”, disse.

A complexidade dos tratamentos, no entanto, tem chamado a atenção para aspectos mais amplos, envolvendo conhecimentos de epidemiologia, uso de vacinas e profilaxias, acredita a especialista.

“É preciso discutir o currículo e a formação dos profissionais que lidam com transplantes e doenças infecciosas para que eles trabalhem em parceria pela vida, e essa interação foi um dos grandes objetivos do evento.”

A programação da ESPCA em Doenças Infecciosas em Transplantes abordou diversos aspectos do transplante, desde a preparação até o acompanhamento a longo prazo, tratando das complicações infecciosas que podem ocorrer ao longo do processo.

Para Fishman, o evento representou “o esforço dos profissionais que atuam na área para ampliar a colaboração entre diferentes disciplinas a fim de minimizar os problemas causados por infecções”.

Agência FAPESP