Mas, na opinião de Ricardo Abramovay, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), essa postura precisa mudar, pois todos os aparatos relacionados à produção de combustíveis fósseis tendem a criar um caminho de dependência para as sociedades.
"Uma sociedade dependente de petróleo tende a ser uma sociedade em que carros movidos por combustão interna são muito importantes e este não é um caminho inovador”, afirmou durante palestra apresentada na sexta-feira (17/10), na Alemanha, durante a programação da FAPESP Week Munich.
“Nosso principal objetivo não deveria ser aumentar o direito de ocupar o espaço de carbono e sim promover a cooperação internacional para compartilhar conhecimentos relacionados à inovação energética e tecnologias que permitam descentralizar a produção de energia. Esse conhecimento é um bem comum da espécie humana."
Segundo Abramovay, o custo da produção de petróleo tem aumentado nos últimos anos, enquanto o de energias renováveis, como a eólica e a solar, tem diminuído.
"Essa queda é resultado muito mais do avanço tecnológico do que de políticas de subsídios. As energias renováveis são drivers para inovação e geração de patentes", afirmou.
Análise computacional de dados
No mesmo painel, dedicado à relação entre a humanidade e o meio ambiente, o professor Gilberto Camara Neto, pesquisador licenciado do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e ocupante da Cátedra Brasil na Universidade de Münster, na Alemanha, falou sobre como o monitoramento remoto por satélite pode ajudar as nações em questões como desmatamento e mudança de uso da terra e a criar modelos que permitam prever o que acontecerá no futuro.
"Uma imagem de satélite isolada não diz muito. É preciso fazer uma série temporal e avaliar a dinâmica da paisagem. O grande desafio do cientista hoje é encontrar soluções para lidar com o enorme volume de dados gerados pelos métodos de observação. Para isso, é preciso recorrer ao poder de abstração e a ferramentas da Matemática e da Ciência da Computação", disse.
Unindo partes de softwares de acesso aberto, Camara está montando – no âmbito do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG) – um ambiente computacional para a observação da Terra, que poderá também ser utilizado na análise de outros tipos de dados.
"Não desenvolvemos tudo sozinhos, pois são programas de alta complexidade. Mas a engenharia de colocar as coisas juntas e a ideia de usar isso para problemas concretos – no caso, o mapeamento do uso da terra no Brasil e no mundo – são nossas", contou.
Resíduos e contaminantes
Ainda no mesmo painel, a professora de Antropologia Social e Cultural Eveline Dürr, da Ludwig-Maximilians-Universität München (LMU), descreveu um projeto que vem sendo realizado com catadores de lixo no México, no qual é investigada a visão que esses trabalhadores têm de si mesmo e de seu trabalho, sua relação com turistas que visitam o local e com o lixo.
"Os catadores de lixo têm adquirido status de verdadeiros ecologistas, na medida em que a reciclagem passa a ser vista como uma atividade sustentável, positiva e moderna", disse Dürr.
O manejo de pesticidas por agricultores da Colômbia foi o tema da palestra de Claudia Binder, também professora da LMU. A cientista defendeu o uso de uma abordagem transdisciplinar, que considera fatores sociais, econômicos, culturais, entre outros, para entender o que influencia a forma como os agrotóxicos são utilizados, com o objetivo de reduzir os riscos para a saúde e o meio ambiente.
Agência FAPESP