Para mostrar o que realmente acontece, o curso de Letras da Universidade de Passo Fundo (UPF) realizou na noite de 31/05 um debate sobre o tema. A temática dos estrangeirismos completou a pauta polêmica da noite.
Os professores do curso sentiram a necessidade de levar essa discussão para fora da sala de aula. O evento, aberto ao público, foi realizado no Auditório da Faculdade de Odontologia e transmitido ao vivo por meio da UPF Virtual para estudantes da UPF Soledade. A coordenadora do curso de Letras, professora Patrícia Valério, explica que o tema das variações linguísticas é estudado há pelo menos 20 anos dentro da UPF. “Em nenhum momento alguém disse que se deve, ao valorizar as variedades, não ensinar a norma padrão, culta. Ao contrário, ela é sempre o ponto de partida”, ponderou. Patrícia acrescentou que a proposta do livro é justamente a de incentivar que as pessoas não sejam ridicularizadas pelo jeito de falar. “Essa linguagem existe, ela é legítima, mas a escola tem sim o papel de ensinar ao aluno a norma que ele ainda não tem para que ele tenha acesso a bens culturais e informações”, explicou.
O livro em questão - Por Uma Vida Melhor, da Coleção Viver e Aprender - é destinado ao Ensino de Jovens e Adultos (EJA). “Ele é para pessoas que por algum motivo foram excluídos da escola em algum momento. O que o livro faz e faz bem feito é sair da linguagem popular para partir para a norma culta”, justificou Patrícia.
Faltou interpretação
Para a professora Marlete Diedrich, a primeira a expor a opinião sobre o tema, faltou a interpretação do conteúdo. Durante a fala ela explicou passo a passo da proposta pedagógica adotada pelo livro. Ela pontuou que os pontos polêmicos não foram adequadamente interpretados uma vez que apresentam sim a norma culta apesar de considerar a existência de variantes populares do idioma. “Aparece o trecho: ‘os livro ilustrado mais interessante estão emprestado’. Qualquer um percebe que a marcação do plural acontece apenas no artigo ‘os’. O livro propõe ainda que o aluno reescreva a frase na norma culta. Muitas das pessoas que fizeram o debate na mídia não chegaram a esse ponto”, observou. Para ela o que as pessoas em geral têm ouvido é que o livro ensina errado ou ensina que devemos falar “os livro”. Já observando todo o conteúdo se percebe que a proposta parte do princípio de que existe um registro popular, mas convida o estudante a fazer a transposição para a norma culta.
Problema
A professora considerou ainda uma observação do linguista Ataliba de Castilho mostrando que a única parte que pode apresentar um problema no livro é no momento em que a autora questiona se as pessoas podem falar “os livro” e ela mesma responde que podem. “Não é questão de poder ou não poder. É fato. As pessoas falam. Justamente por essa pergunta estar equivocada pode ter gerado toda a polêmica”, argumentou. Na mesma noite falou a professora Cláudia Toldo que contextualizou alguns conceitos de língua. Ela concordou que a norma culta deva ser ensinada sem que para isso seja necessário ridicularizar as variantes populares da língua, uma vez que elas são utilizadas pelas pessoas. Já a professora Luciane Sturm abordou o tema dos estrangeirismos baseada em uma proposta de lei apresentada pelo deputado Raul Carrion, que instituiria a obrigatoriedade da tradução de expressões ou palavras estrangeiras para a língua portuguesa. Ela contextualizou o que são estrangeirismos e empréstimos linguísticos e apresentou também a posição do curso de Letras da UPF que é contrário a essa determinação.
O evento contou com a presença da diretora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Rosani Sgari Szilagyi.
Assessoria de Imprensa
Universidade de Passo Fundo