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Universidade do Sul de Santa CatarinaUniversidade do Sul de Santa Catarina - Uma imensa montanha de oito metros de altura, formada ao longo de cerca de 500 anos com sedimentos do fundo do mar, encobre o que mergulhadores do Projeto Resgate Barra Sul acreditam ser uma nau do século XVI.
O naufrágio foi localizado nas proximidades das praias do Sonho, Naufragados e Papagaios, na parte Sul da Ilha de Santa Catarina, onde era a entrada de naus que trafegavam na região na época das grandes navegações. Caso a hipótese se confirme, será o naufrágio mais antigo até agora identificado no Brasil.

Na parte mais alta dos sedimentos que encobrem a embarcação foi localizado um pequeno canhão de sinalização e, ao redor de uma área de cerca de 30 metros, os aparelhos utilizados na busca indicaram a presença de metais, o que pode revelar a estrutura total do navio. Além de cabos, cacos de cerâmica e pedras de lastro, uma âncora foi achada nas proximidades.

A âncora é o achado mais antigo. Na verdade, foi ela que, encontrada por acaso pelo mergulhador Gabriel Corrêa, em 2005, deu início à criação da ONG Projeto Resgate Barra Sul. “Pelo tamanho e formato da peça acreditamos que pertence a uma nau do século XVI. Esse tipo era utilizado por embarcações dessa época”, afirma Gabriel Corrêa, mergulhador e diretor do projeto.

As perguntas ainda não respondidas são se a âncora faz parte do mesmo naufrágio e se a nau era mesmo de Sebastião Cabotto, uma das hipóteses mais viáveis. Cabotto comandou, em 1526, uma expedição que saiu da Espanha tendo como destino o Oriente, mas ao saber das histórias de um rico povo no interior da América, que se adornava dos pés à cabeça com ouro, resolveu deixar seus planos iniciais para trás e ir em busca dessa lenda. Não achou esse povo e perdeu o barco.

“A Ilha era um ponto estratégico de abastecimento para os navegadores que nos séculos XVI e XVII serviam aos reinos de diversos países europeus e seguiam rumo ao Rio da Prata. Quando eles adentravam a baía Sul, na Ilha de Santa Catarina, para se abastecerem de provisões, eram surpreendidos pela geografia acidentada do leito marinho e muitas vezes pegavam um inesperado vento Sul, vindo a naufragar”, relata outro mergulhador e diretor da equipe, Nei Mund Filho. 

Por isso, a região pesquisada é considerada um cemitério de navios. A história registra oito naufrágios, mas muitos mais podem ter encontrado ali o seu fim.  Entre os mais importantes, além do de Cabotto, está também o de Juan Dias de Solis, em 1516. 

Nesse imenso sítio arqueológico, o Projeto Resgate Barra Sul conseguiu autorização da Marinha para pesquisar e explorar uma área de 400 quilômetros quadrados que desde o ano passado vem sendo palmilhada em busca de vestígios de naufrágios. Eles localizaram até agora três – dois bem antigos e um recente, provavelmente de 100 anos. Mas concentraram suas buscas nas imediações da primeira âncora encontrada, na tentativa de achar mais peças que pudessem identificar a embarcação.

As pesquisas ocorrem em dois tempos: de março a maio, normalmente, há intensificação de mergulhos, pois é quando as condições são melhores na região. Fora dessa época, os mergulhadores debruçam-se sobre livros e registros históricos. No ano passado eles conseguiram o apoio financeiro da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (FAPESC), o que garantiu a utilização de equipamentos de última geração, como radares, sonares e GPS que facilitam o planejamento dos mergulhos, tornando-os mais eficazes.

Com a finalização de mais uma temporada de mergulho, o projeto conseguiu acabar o croqui total do navio. A partir desta etapa, o trabalho é o de escavação para ver o que se esconde na parte que está soterrada. “Isso tudo depende de apoio financeiro que ainda estamos tentando viabilizar”, diz Corrêa. A arqueóloga  Deisi Scunderlick Eloy de Farias, consultora do projeto e responsável pelo laboratório de Arqueologia da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), deverá fazer a curadoria das peças.

Em uma etapa posterior as peças serão removidas do mar, dessalinizadas e restauradas. “Após a restauração, os achados serão direcionados à Marinha e ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional), para colocação futura em um museu. Outra idéia é recolocar no lugar de onde foram retiradas e transformar essa parte do fundo do mar em um imenso museu subaquático”, diz Corrêa.

Assessoria de Imprensa
Unisul – Universidade do Sul de Santa Catarina