Lançada em 2006, nos Estados Unidos, com o objetivo de tornar a literatura mundial sobre biodiversidade disponível por meio do acesso aberto e facilitar seu uso em projetos de pesquisa e outros fins, a iniciativa evoluiu e resultou na criação da rede global da BHL (gBHL), com a participação da África do Sul, Austrália, China, Egito, Estados Unidos e Europa. O Brasil integra a iniciativa por meio da rede BHL-SciELO.
Liderada pelo programa SciELO, da FAPESP, a rede envolve o programa BIOTA, também da Fundação, além da Sociedade Brasileira de Zoologia e os sistemas de informação e coleções de bibliotecas das Fundações Zoobotânica (FZB), Biblioteca Nacional (FBN) e Oswaldo Cruz (Fiocruz); Institutos Butantan, de Botânica do Estado de São Paulo (Ibot) e de Pesquisas da Amazônia (Ipam); Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ); museus Nacional, Paraense Emilio Goeldi e de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP); e a Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Entre os dias 6 e 8 de maio, a rede global da BHL realizou no Instituto Butantan e na FAPESP a sua primeira reunião em um país da América Latina.
“A proposta de criação da rede BHL-SciELO surgiu de um projeto conjunto entre a Sociedade Brasileira de Zoologia, o Museu de Zoologia da USP e o programa SciELO, e sua implementação foi discutida, em 2006, em uma assembleia de pesquisadores da área realizada durante a COP-8 [Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB)], em Curitiba”, disse Abel Packer, diretor do programa SciELO na abertura da reunião, na FAPESP. “Desde então, percorremos um longo caminho até o lançamento da BHL-SciELO, em 2010.”
A criação e o desenvolvimento da rede foram financiados por meio do projeto SciELO Biodiversidade, apoiado pela FAPESP no âmbito do programa BIOTA e de projetos de digitalização on-line de coleções de obras essenciais em biodiversidade das bibliotecas brasileiras apoiados pela Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente.
“O Ministério do Meio Ambiente financiou a infraestrutura de digitalização dos documentos das bibliotecas das instituições participantes. Por sua vez, a FAPESP financiou a organização, tratamento e publicação das fontes de informação”, explicou Packer.
De acordo com Packer, estima-se que 25% da produção científica brasileira relacionada à biodiversidade seja publicada em periódicos brasileiros, sendo a maioria indexada e publicada em acesso aberto pela SciELO.
Há uma série de documentos relevantes relacionados ao tema, contudo, que só está disponível em papel nas bibliotecas de universidades e instituições de pesquisa na área, ponderou.
“Nossa proposta é preencher essa lacuna na publicação de conteúdos sobre a biodiversidade brasileira com um esforço mais exaustivo possível de digitalizar todo o material relevante que está em papel e disponibilizá-lo on-line para que possa interoperar com artigos e periódicos publicados na SciELO e outras fontes de informação”, disse Packer.
“Além disso, o objetivo é tornar esse material disponível globalmente e ingressá-lo no fluxo internacional de informação por meio da rede global da BHL”, explicou.
Foram digitalizados nos últimos três anos 869 documentos, provenientes de quatro bibliotecas – Museu de Zoologia da USP (232), Jardim Botânico do Rio de Janeiro (176), Instituto Butantan (285) e Museu Paraense Emílio Goeldi (176) –, que estão com indexação pendente.
A meta é digitalizar até o fim de 2016, ao todo, mais de 2 mil obras sobre biodiversidade consideradas relevantes, contou Packer.
“Estimamos que seria necessário digitalizar entre 3,5 mil e 4 mil obras para fazer uma cobertura exaustiva dos documentos relevantes sobre biodiversidade que estão em papel nas bibliotecas das instituições de pesquisa brasileiras”, disse.
A SciELO tem hoje 45 revistas indexadas e em acesso aberto relacionadas à biodiversidade, publicadas por seis países das Américas: Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Chile e México. Além disso, a biblioteca virtual desenvolveu uma coleção sobre legislação em biodiversidade que deverá ser atualizada até o fim de 2015.
Outra novidade da biblioteca é um tesauro (lista de palavras semelhantes, dentro de um domínio específico de conhecimento) em biodiversidade, em português, inglês e espanhol. “Esse tesauro contribuirá para os processos de indexação automática de conteúdos e possibilitará ao usuário fazer buscas em diversos idiomas”, avaliou Packer.
Acesso à informação qualificada
Na avaliação de Carlos Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do programa BIOTA-FAPESP, o acesso à informação qualificada sobre biodiversidade é uma ferramenta de suma importância para o fortalecimento da comunidade científica nacional e internacional e representa um dos principais gargalos para a realização de diagnósticos de biodiversidade em diferentes regiões do mundo.
“De maneira geral, a informação sobre biodiversidade no mundo é fragmentada, dispersa e, muitas vezes, de difícil acesso, porque está disponível apenas em literatura não publicada, como teses, monografias e relatórios, e mesmo quando está publicada, não há a possibilidade de ser usada para o aperfeiçoamento de políticas públicas porque os dados são pontuais”, avaliou o pesquisador em sua palestra durante o evento.
“Foi por isso que quando foi criado o programa BIOTA-FAPESP começou a ser desenvolvido um mecanismo para reunir informações altamente técnicas, combinadas com uma base cartográfica e com acesso aberto, pela internet, que permitisse o uso dessas informações para formulação e aperfeiçoamento de políticas públicas”, contou.
Denominado SinBIOTA, o banco de dados sobre biodiversidade do programa BIOTA-FAPESP reúne toda a informação taxonômica das espécies coletadas nos biomas do Estado de São Paulo, incluindo onde, como, em que condições e por quem foram coletadas.
O banco de dados do BIOTA integra o Global Biodiversity Information Facility (GBIF), ao qual a BHL pretende se integrar.
“Esperamos que a base do GBIF possa ser usada pela Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos [IPBES, na sigla em inglês] para a realização de diagnósticos regionais”, disse Joly, que é membro do painel multidisciplinar de especialistas da entidade internacional criada em 2012 com a função de sistematizar o conhecimento científico acumulado sobre biodiversidade para subsidiar decisões políticas no âmbito internacional.
“Estamos implementando um programa de trabalho bastante ambicioso no âmbito do IPBES e um dos gargalos que identificamos para fazer diagnósticos de biodiversidade em diferentes regiões do mundo é o acesso à informação qualificada. Certamente o GBIF e a BHL serão parceiros estratégicos para que possamos avançar nesse sentido”, avaliou.
Até o momento, a BHL já digitalizou mais de 45 milhões de páginas de mais de 159 mil publicações das bibliotecas que integram o consórcio.
“O número de visitantes das páginas atingiu em 2014 a marca de mais de 927 mil”, disse Nancy Gwinn, presidente do conselho de membros da BHL e diretora do Smithsonian Institution Libraries.
Agência FAPESP