Joanes afirma que a forma como a arquitetura militar se desenvolveu no Japão desafia o que é conhecido na história. “No ocidente, nos acostumamos a uma lógica linear pautada na evolução da tecnologia nesse lado do mundo”, explica. A pesquisa de Joanes partiu da leitura de autores europeus e japoneses. “A produção sobre o assunto no Brasil é quase zero, precisei descobrir as universidades de referência no mundo que pesquisam o assunto”, conta.
Marcelo Jatobá/UnB Agência
Os japoneses sempre aproveitaram o terreno escarpado para proteger-se de ataques dos inimigos. Erguer fortes em montanhas era parte primordial da estratégia militar, que caiu por terra com a ascensão dos xoguns, líderes militares responsáveis pela unificação do país. “Eles empreenderam uma mudança para as cidades, localizadas em planícies ou vales, sinônimo de poder, já que a família imperial também estava instalada nas cidades”, explica Joanes. “Além disso, existia a necessidade de fortalecer o comércio como forma de romper com o passado agrícola e facilitar a integração dos territórios conquistados”.
CONSTRUÇÕES DIFERENTES – Segundo Joanes, havia diferenças significativas entre a arquitetura japonesa e as fortalezas construídas na mesma época na Europa e nas Américas. “No ocidente, elas eram construídas para resistir à artilharia”, conta. O arquiteto explica que a característica dessas fortalezas era ter muralhas grossas e baixas para se defender do ataque de canhões, tecnologia que não se popularizou no Japão. “Encontramos esse tipo de arquitetura em fortes brasileiros, que se caracterizavam também pelo espaço destinado à artilharia de defesa”, exemplifica.
Como consequência da mudança, novas fortalezas foram construídas nas cidades. As estratégias de defesa utilizadas nas montanhas tiveram que ser adaptadas para o meio urbano. “O relevo foi copiado nas estruturas das construções por meio de taludes que sustentavam as torres, por exemplo”, explica Joanes, referindo-se às bases de pedra sob os prédios. “A mistura de diferentes tamanhos de pedras permitia que a estrutura ficasse flexível e resistente”, conta. A altura deles chegava a 25 metros, somados a eventual presença de um fosso, com ou sem água. “Era o bastante para dificultar a escalada e resistir tanto a tiros de canhão – raramente utilizados –, quanto aos terremotos, comuns no Japão”, conta o pesquisador.
Marcelo Jatobá/UnB Agência
Os portugueses, que chegaram depois ao país, tiveram um papel preponderante na história militar do Japão já que foram eles que levaram as armas de fogo para o arquipélago. Além disso, a presença dos portugueses no país implica em uma ligação não esperada entre o Japão e o Brasil, é o que defende a professora Sylvia Ficher, orientadora da dissertação. “Uma técnica muito utilizada nos castelos japoneses de construção de paredes com barro socado – a taipa de pilão – também foi adotada por portugueses e brasileiros na mesma época”, conta a professora.
Sylvia acredita que estudos como o de Joanes são importantes para o meio acadêmico. “O interessante em uma universidade é justamente a oportunidade que o pesquisador tem de se aprofundar no assunto que lhe desperta o interesse”, afirma. “Nesse caso, podemos ainda
enriquecer o entendimento da nossa própria cultura ao olhar como a cultura do outro se desenvolveu”.
ESTÉTICA DO GUERREIRO – Beleza e funcionalidade andavam juntas nas fortalezas japonesas. "Os arquitetos militares herdaram parte da cultura estética da casa imperial", conta Joanes. O pesquisador explica que aspectos artísticos dos palácios foram aproveitados nas fortalezas. “Mas as fortalezas se diferenciaram na altura, de palácios de dois ou três andares eles passaram a construir torres de sete andares”, explica. “Isso refletiu uma mudança no trabalho com as proporções, agora mais verticais, expressando o poder de uma nova casta”.
O engenheiro militar não está livre das influencias culturais e artísticas do meio, apenas coloca a funcionalidade da construção à frente da aparência. “Na verdade, ao contrário do que se pensa, a arquitetura militar também possui um aspecto estético que tem que ser valorizado”, afirma. Partindo dessa ideia, Joanes vai defender em sua tese de doutorado a valorização arquitetônica das fortalezas de guerra. Ele pretende concluir sua pesquisa na Universidade de Nagoya, no Japão.
UnB Agência