Como explica o professor Marcelo Adorna Fernandes, do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva (DEBE) da Universidade, a partir de estudos paleontológicos é possível analisar os níveis tróficos entre os animais. Evidências aparentemente simples, como marcas e desgastes de ossos e fragmentos de dentes, podem indicar a existência de relações entre predadores e presas, o tipo de alimentação e as características dos habitats dos animais.
Também é possível analisar a evolução dos animais no decorrer da história e de que forma a anatomia favoreceu a adaptação em determinados ambientes. A comparação do formato dos dentes, por exemplo, de animais e seus descendentes pré-históricos podem indicar de que forma as mudanças no planeta contribuíram para as alterações morfológicas.
Fernandes salienta que os estudos em Paleontologia podem envolver pessoas de diferentes formações. As aulas de graduação ministradas na UFSCar já foram frequentadas por estudantes dos cursos de Química, Engenharia Química e Física, além dos graduandos em Biologia. "Existe uma interdisciplinaridade nos estudos em Paleontologia, como a aplicação de conhecimentos de Química, Física, Geologia, Astronomia", afirma. As atividades realizadas na Universidade se concentram nos estudos de Paleontoecologia e já existem pesquisas de iniciação científica realizadas sob a orientação do professor Fernandes, como um estudo que compara a biomorfologia e analisa a evolução dos dentes de peixes pulmonados.
Além de atrair a atenção das crianças, a Paleontologia também apresenta interesses econômicos e sociais. Segundo o docente, a descoberta de fósseis é um importante apelo turístico em algumas regiões do Brasil e também existem pesquisas que analisam os vestígios de animais e plantas pré-históricas para indicar a existência de combustíveis no subsolo. "Desde a infância, os dinossauros estão no imaginário das crianças, mas depois que se estuda, percebe-se que a Paleontologia não se concentra apenas nos dinossauros. Existe, por exemplo, estudos sobre a flora, a existência de micro-organismos, que podem gerar pesquisas sobre a existência de petróleo ou gás natural em algumas regiões", aponta Fernandes.
A existência de fósseis também reforça a teoria da deriva continental e a separação da Pangeia até a configuração espacial existente nos dias de hoje. O professor Fernandes explica que existem fragmentos de uma mesma espécie de dinossauro que foram encontrados nos continentes africano e americano. "O fóssil é um ótimo indicador biogeográfico. Se um pesquisador encontra um fóssil com características específicas de um determinado ambiente em um outro lugar, pode-se estabelecer uma relação entre essas localidades", aponta.
O acervo pré-histórico preservado na UFSCar conta com vestígios e fósseis de animais que viveram de 500 milhões a 10 mil anos atrás. São aproximadamente 2.700 peças, como troncos petrificados, ossos, pegadas registradas em rochas, vindas de diversas regiões. Alguns objetos, como pegadas de dinossauros impressas na rocha, foram encontradas na região de São Carlos e a coleção também conta com fósseis de répteis aquáticos da região de Rio Claro. "Diante deste acervo é de fundamental importância a conscientização para a valorização do patrimônio cultural, tornando-se essencial a criação de museus integrados à sociedade brasileira para a valorização, preservação e democratização do acesso à nossa história e pré-história", afirma o professor.
Entre os dias 2 de abril e 30 de maio, parte dessa coleção estará exposta ao público na Biblioteca Comunitária (BCo) da UFSCar. A "PaleoExpo 2012: dinossauros e outros seres pré-históricos" é organizada pelo Departamento de Ação Cultural da BCo, sob coordenação do professor Fernandes. Entre os destaques estão o esqueleto completo de um dinossauro predador brasileiro, o Abelissauro, com oito metros de comprimento e três metros de altura, e também o Anhangüera, um pterossauro do Ceará com cinco metros de envergadura.
As visitas podem ser feitas de segunda a sexta-feira, das 8 às 22 horas, e aos sábados, das 8 às 14 horas. Agendamentos e mais informações podem ser obtidos no Departamento de Ação Cultural da BCo, pelo telefone (16) 3351-8275.