O professor Goldemberg argumenta que é hora de tomar a abordagem globalmente”, destaca um artigo publicado na Research Outreach.
O artigo explora o conceito de “salto tecnológico” criado por Goldemberg como alternativa de crescimento e de superação de problemas energéticos de países em desenvolvimento.
Goldemberg foi presidente da FAPESP de 2015 a 2018, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e reitor da Universidade de São Paulo. Ocupou os cargos de secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo e de secretário de Ciência e Tecnologia e secretário de Meio Ambiente no Governo Federal, tendo sido também ministro da Educação.
O texto destaca que, tal como a distribuição desigual de riqueza, a maior parte da energia produzida no mundo é consumida por uma minoria. “Aproximadamente 70% da energia comercial no mundo é consumida pelos 25% da população mundial que vivem em países industrializados, com os restantes 30% sendo racionados para os 75% das pessoas que vivem nas nações em desenvolvimento.”
“Esta situação não é sustentável e seria ingênuo esperar que o balanço permaneça o mesmo. Se olharmos para os dados, veremos que o uso energético das nações industrializadas tem estabilizado nos últimos anos, enquanto o dos países em desenvolvimento continua a crescer. O que ocorrerá quando as escalas se alterarem e os países em desenvolvimento consumirem mais e mais energia, particularmente energia de combustíveis fósseis poluentes? O professor Goldemberg passou toda a sua carreira lidando com problemas como esses e, se a degradação ambiental produzida pelo homem e as mudanças climáticas forem a pílula mais amarga que nossa geração terá que engolir, talvez possamos tirar uma folha de seu trabalho para adoçar esse gosto com açúcar”, escreveram os autores.
O artigo faz um histórico do Pró-Álcool e ressalta um artigo publicado por Goldemberg na revista Science, em 1978. “[No artigo] ele olhou especificamente para o custo e gasto energético de várias culturas diferentes: cana-de-açúcar, mandioca e sorgo doce ou sacarino. Ele se concentrou nessas culturas específicas por serem essencialmente uma forma de energia solar não poluente: os raios solares fornecem as colheitas com a energia de que necessitam para crescer e a energia extra é armazenada pelas plantas, podendo ser extraída posteriormente na forma de álcool etílico.”
“O trabalho do professor Goldemberg demonstrou que a cana-de-açúcar era a cultura mais eficiente ao converter a energia solar em um combustível químico e abriu o caminho para o boom energético brasileiro que se seguiu. Hoje, estima-se que 50% da gasolina que estaria em uso para abastecer carros no Brasil foi substituída por etanol de cana-de-açúcar, um combustível renovável. Um feito que foi possível, em parte, pelo que o professor Goldemberg chama de salto tecnológico”, diz o artigo.
“O professor Goldemberg acredita que as nações em desenvolvimento podem – e devem – dar um salto sobre as tecnologias que são incompatíveis com suas situações específicas. Converter cana-de-açúcar em combustível é um exemplo específico de como isso pode funcionar bem, mas a abordagem pode ser generalizada para muitas tecnologias em todo o mundo”, escreveram os autores.
Segundo Goldemberg, se uma abordagem de salto tecnológico semelhante for adotada na luta contra as mudanças climáticas, a crise energética poderá ser evitada. “Um cálculo simples mostra que expandir o programa brasileiro de etanol por um fator de 10 forneceria etanol suficiente para substituir mais de 20% da gasolina usada no mundo”, disse.
O artigo Technological leapfrogging the global energy crisis pode ser lido em https://researchoutreach.org/articles/technological-leapfrogging-the-global-energy-crisis-changing-role-science-developing-countries-help-oncoming-climate-catastrophe/.
Agência FAPESP