Segundo Ilana Wainer, professora do Departamento de Oceanografia Física do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, os oceanos são uma “espécie de ar condicionado do planeta” e o oceano Austral (ou Ártico) – sem barreiras e com correntes intensas em resposta a ventos fortes – é peça fundamental nas mudanças do clima.
“O oceano Austral é a principal conexão entre as maiores bacias oceânicas e é também responsável pela comunicação do oceano profundo com a atmosfera, permitindo que sinais de anomalias na temperatura, por exemplo, sejam carregados das camadas superficiais para maiores profundidades. Em suma, o oceano Austral tem um papel importante nas mudanças do clima”, disse.
A pesquisadora destaca que o clima global depende diretamente das massas de água. Wainer foi uma das palestrantes na FAPESP Week Montevideo, realizada dias 17 e 18 de novembro de 2016 na capital uruguaia. O evento foi organizado pela FAPESP em colaboração com a Asociación de Universidades Grupo Montevideo (AUGM) e a Universidad de la República (UDELAR).
Um dos principais componentes do oceano Austral é a Corrente Circumpolar Antártica, que reúne o sistema composto pelas frentes Polar, Subantártica e Subtropicais.
Wainer analisou mudanças nesse sistema entre os períodos 1050 a 1950 e 1970 a 2000, por meio de um conjunto de simulações com o uso do Modelo de Sistema Terrestre do National Center for Atmospheric Research, dos Estados Unidos.
“Os resultados, considerando a média dos experimentos, revelaram que a Frente Polar se deslocou para o sul cerca de 0,7 grau de 1990 a 2000, em comparação com a média para o período de 1050 a 1950. Isso é estatisticamente significativo por ser duas vezes o desvio padrão da variabilidade de 1050 a 1950”, disse a especialista em interação oceano-atmosfera e clima que integra o Projeto Temático “Impacto do Atlântico Sul na célula de circulação meridional e no clima”, apoiado pela FAPESP.
“Esse efeito é causado pelo deslocamento para o sul da Corrente Circumpolar Antártica, que por sua vez é promovida também pelo desvio para sul da latitude onde se encontra o valor máximo do cisalhamento do vento zonal”, disse.
Cisalhamento é o fenômeno de deformação ao qual um corpo está sujeito quando as forças que sobre ele agem provocam um deslocamento em planos diferentes, mantendo o volume constante.
“Fizemos uma análise de correlação e observamos que o deslocamento para o sul da posição do valor máximo do cisalhamento do vento zonal está fortemente relacionado com alterações na região da Corrente Circumpolar Antártica no período de 1970 a 2000. As mesmas correlações para o período de 1050 a 1950, em comparação, são bem mais fracas”, disse Wainer.
Essas mudanças levam a um importante impacto ambiental, afetando, por exemplo, o nível do mar, a temperatura dos oceanos, o sequestro de carbono e as funções ecossistêmicas.
A pesquisadora participa do comitê gestor do INCT-Criosfera – um dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia sediados no Rio Grande do Sul com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e FAPERGS –, onde também contribui com pesquisas em modelagem do clima para entender o papel do gelo marinho e plataformas de gelo da Antártica na circulação do oceano e impactos climáticos. O aquecimento global tem levado ao aumento no fluxo de gelo para os oceanos.
Poluição no Prata
Juan Carlos Colombo, diretor do Laboratório de Química Ambiental e Biogeoquímica da Facultad de Ciencias Naturales y Museo da Universidade Nacional de La Plata (UNLP), na Argentina, apresentou na FAPESP Week Montevideo resultados de estudos sobre identificação de poluentes no rio da Prata.
Colombo e colaboradores têm instalado marcadores biogeoquímicos para monitoramento na costa da Argentina e do Brasil. Anualmente, mais de 55 milhões de m³ de sedimentos, proveniente das províncias do norte da Argentina e dos estados da região sul do Brasil, são arrastados ao rio da Prata, o estuário formado pelo desague das águas dos rios Paraná e Uruguai no Atlântico.
Os marcadores permitiram aos pesquisadores identificar grande quantidade de material orgânico, metais pesados, pesticidas (compostos organoclorados) e contaminantes persistentes.
Manuel Pulido, da Universidad Nacional del Nordeste, na Argentina, falou sobre desafios para o uso da assimilação de dados na melhoria dos modelos utilizados em estudos da atmosfera e do clima. A assimilação de dados é uma técnica estatística que permite obter estimativas a partir de parâmetros e variáÂÂÂveis.
Saiba mais sobre a FAPESP Week Montevideo: www.fapesp.br/week2016/montevideo.
Agência FAPESP