O experimento consistiu em manter um grupo de ratos machos em dieta rica em gordura animal (banha de porco) e outro grupo em dieta rica em gordura vegetal hidrogenada (óleo de milho). Para um terceiro grupo, de controle, a alimentação baseou-se em pouca gordura. Fêmeas nutridas com ração comercial cruzaram com os ratos. Em seguida, a equipe do laboratório de Thomas Ong, do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da (USP e do FoRC, induziu câncer de mama em filhotes fêmeas com 50 dias de vida e monitorou o desenvolvimento da doença.
O primeiro resultado mostrou que as filhas de pais que consumiram banha de porco apresentaram maior incidência de câncer de mama em comparação com filhas de pais que consumiram a dieta controle e o óleo de milho. Já os tumores da prole dos ratos mantidos em dieta de óleo de milho cresceram menos do que os tumores da prole “filha” da dieta de banha de porco e também demoraram mais a aparecer. Além disso, o número de tumores na prole dos ratos mantidos com gordura de origem vegetal foi menor do que na prole dos ratos alimentados com a gordura animal.
A redução do risco de tumor para filhotes descendentes de ratos machos submetidos a dieta com óleo de milho surpreendeu os pesquisadores, uma vez que, em humanos, a ingestão de altos níveis de gordura costuma ser associada à má saúde. “Isso mostra que a gordura tem efeitos distintos e que dependem das características de composição de ácidos graxos. A gordura animal é rica em ácidos graxos saturados e o óleo de milho é rico em poli-insaturados da série 6”, explicou Thomas Ong ao Núcleo de Divulgação Científica da USP.
A coordenadora do FoRC, Bernadette Franco, chamou a atenção para o fato de que a descoberta, que classificou de inovadora, “poderá impactar significativamente os conhecimentos da relação entre a alimentação e a prevenção do câncer”. Franco acrescentou que estudos anteriores já haviam mostrado que o risco de câncer de mama em filhas é influenciado pela dieta lipídica da mãe. “O trabalho da equipe de Thomas chama atenção para a dieta paterna e abre oportunidades para a investigação de novas estratégias de prevenção de doenças através da alimentação, que é um dos importantes focos de pesquisa dos cientistas do FoRC”, concluiu.
A investigação, realizada em parceria com o Georgetown Lombardi Comprehensive Cancer Center, em Washington DC, nos Estados Unidos, incluiu a coleta de esperma dos ratos machos e das glândulas mamárias da prole para análise de moléculas de proteínas e de micro RNA presentes. As mudanças encontradas pelos pesquisadores nessas moléculas podem explicar as diferenças no desenvolvimento do câncer de mama das proles.
O artigo Paternal programming of breast cancer risk in daughters in a rat model: opposing effects of animal- and plant-based high-fat diets, assinado por Thomas Prates Ong e outros e publicado na Breast Cancer Research, pode ser acessado no endereço http://breast-cancer-research.com/content/18/1/71.
O Núcleo de Divulgação Científica da USP entrevistou Thomas Ong, um dos autores do artigo, sobre a descoberta. Veja no vídeo.
(video YouTube)
https://youtu.be/fiEw38wzyvY.
Agência FAPESP