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Eduardo Moacyr KriegerUm dos planos que estava na cabeça do jovem gaúcho Eduardo Moacyr Krieger, quando se formou médico em Porto Alegre, em 1953, era se tornar cardiologista e trabalhar na Faculdade de Medicina. Mas logo ele seria desviado para sempre desse caminho, por influência decisiva de dois eminentes argentinos, os fisiologistas Bernardo Houssay, Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 1947, e Eduardo Braun Menéndez, responsável pela descoberta da angiotensina, em 1940.
Nesse caso, em vez de reclamar dos vizinhos como de hábito, só cabe aos brasileiros lhes agradecer, porque quem mais ganhou com essa mudança de rota foi o campo da fisiologia cardiovascular no país e, especialmente, a pesquisa da hipertensão.

O professor Krieger, 84 anos, para além de suas seminais contribuições diretas ao conhecimento dos mecanismos de controle da pressão arterial, foi o criador, ainda nos anos 1950, de um importante grupo de pesquisa na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, e adiante, em 1985, criador do mais respeitado grupo de pesquisa integrada em hipertensão do país, com considerável inserção internacional, o do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da USP, em São Paulo.

Krieger, um dos nove filhos de um comerciante de origem alemã radicado no pequeno município de Cerro Largo, perto da fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina, e o único destinado pela família a cursar faculdade, em paralelo às suas atividades de professor e pesquisador, manteve sempre um certo gosto pela política acadêmica.

E nesse lado do seu currículo, entre vários outros, há que se destacar o trabalho, por 14 anos, como presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), função em que buscou incansavelmente melhorar o posicionamento da ciência e da comunidade científica do país na cena internacional.

Pai de dois cientistas respeitados, José Eduardo Krieger e Marta Helena Krieger, e avô de três netos, casado com dona Lorena há 55 anos, o professor Eduardo Moacyr Krieger, vice-presidente da FAPESP desde 2010, enquanto finaliza mais um Projeto Temático que coordena, encara neste momento um novo desafio: organizar a disciplina e um grupo de medicina translacional no InCor.

Pesquisa FAPESP – Vamos começar pela linha de pesquisa a que o senhor mais tem se dedicado, os mecanismos de regulação da pressão arterial. Como isso teve início?
Eduardo Moacyr Krieger – Eu comecei, na realidade, quando iniciei minha carreira científica. Recém-formado em Porto Alegre, na Faculdade de Medicina, encontrei o grupo de fisiologistas argentinos liderado pelo professor Bernardo Houssay, Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 1947. E entre os discípulos dele estava Eduardo Braun Menéndez, que, em 1940, havia descoberto a angiotensina, uma das substâncias importantes na regulação da pressão arterial. Eu queria fazer carreira universitária e, em 1954, esse grupo veio a Porto Alegre num programa da Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior]. Eles vinham em rodízio, ficavam um mês. O próprio Bernardo Houssay passou meses em Porto Alegre. Como eu tinha interesse em cardiologia, trabalhei nesta oportunidade com Braun Menéndez. Depois fui a Buenos Aires, fiquei lá sete ou oito meses, trabalhando no sistema renina-angiotensina.

Pesquisa FAPESP – No laboratório de quem?
Krieger – Do professor Bernardo Houssay, que estava havia quase 10 anos fora da universidade. Devido a manifestações contra a ditadura militar, o grupo foi expulso da Faculdade de Medicina em 1943. Houssay, que era um patriota, sempre dizia que a ciência não tem pátria, mas o pesquisador tem e, mesmo prêmio Nobel, ele nunca quis sair da Argentina. Trabalhava lá em condições precárias, numa casa adaptada da família de Braun Menéndez, que tinha muito dinheiro. Cada quarto se tornara um laboratório. A casa ficava na rua Costa Rica, num bairro bastante distante [Palermo]. O pessoal da faculdade de medicina não conhecia mais o Bernardo Houssay, e toda semana chegavam a seu laboratório grandes pesquisadores do mundo inteiro. Era um ambiente fantástico. Ao lado da casa maior tinha uma casinha que alcançávamos passando por uma cancela do jardim. Ali era o laboratório de bioquímica de Luis Leloir, prêmio Nobel de Química em 1970. Esse era o ambiente, cheio de prêmios Nobel presentes e futuros, ao qual eu chegara pensando só em fazer um estágio, voltar ao Brasil e fazer cardiologia. Mas tudo isso me despertou a atenção para a pesquisa básica e fui em seguida aos Estados Unidos completar minha formação científica.

O texto completo da entrevista está na edição 197 da revista Pesquisa FAPESP.

Revista Pesquisa FAPESP