O estudo, apoiado pela FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular e publicado na revista Allergy, da Academia Europeia de Alergia e Imunologia, avaliou 275 pessoas da mesma família.
“O objetivo foi determinar o tipo de mutação genética no inibidor da proteína C1 que causa a doença. Nele, observamos a ausência de um nucleotídeo do DNA. É uma mutação que não havia sido identificada em outras famílias”, disse Arruda à Agência FAPESP.
Existem mais de 200 mutações genéticas responsáveis pelo angioedema com descrição na literatura científica. “Na família estudada foi detectada a deleção heterozigota de uma citosina no exon 3 [segmento codificador] do gene serping1, que codifica a proteína C1. É como se uma única peça fosse capaz de alterar toda a estrutura do gene e, consequentemente, a proteína que ele codifica”, disse.
O inibidor de C1 impede diversas vias metabólicas no organismo, uma das quais é responsável pela produção da bradicinina, substância que atua na dilatação dos vasos aumentando a permeabilidade. Na ausência da bradicinina, o líquido transborda para os tecidos e causa o edema.
A doença se manifesta por meio de inchaços, caracterizados pela ausência de vergões, dor e coceira. Os inchaços são muitas vezes desencadeados por situações de estresse e chegam a durar entre 48 e 72 horas. “Nesse período, o paciente deve ser tratado de forma rigorosa. Caso contrário, ele pode morrer de asfixia, por conta do edema das vias aéreas”, ressaltou Arruda.
“O mais complicado é o tratamento das crises. Recentemente, foi lançado no Brasil um medicamento que atua na inibição do receptor da bradicinina. É importante compreender a doença, pois ela tem um tratamento muito específico”, disse.
Entre os primeiros sintomas – que surgem em torno dos 10 anos de idade – e o diagnóstico pode levar cerca de uma década. “Grande parte dos médicos desconhece a doença devido à sua raridade. Quando há vários casos na família, pode ser mais fácil identificá-la”, afirmou Arruda.
Para identificar o angioedema, a pesquisadora conta que são feitas análises laboratoriais nas quais são determinadas a quantidade e a atividade enzimática do inibidor de C1, além da dosagem de C4 – proteína cujo nível reduz quando há a mutação. “O diagnóstico final, e mais preciso, seria identificar uma mutação no gene, como fizemos nessa família. Porém, isso não é rotina”, disse.
“A doença não tem cura, mas podemos ajudar no que chamamos de aconselhamento genético. Em um recém-nascido – de uma família portadora do angioedema – é possível realizar os exames já nos primeiros meses para dizer se a criança tem ou não a mutação”, destacou.
O artigo A single nucleotide deletion at the C1 inhibitor gene as the cause of hereditary angioedema: insights from a Brazilian family (doi:10.1111/j.1398-9995.2011.02658.x), de Luisa Karla de Paula Arruda e outros, pode ser lido na Allergy em onlinelibrary.wiley.com
Agência FAPESP