Submit to FacebookSubmit to Google PlusSubmit to TwitterSubmit to LinkedIn
faperj-28gen11-1Uma bola de fogo que desce do céu rapidamente, gerando um estrondo no ar, é o primeiro sinal. Depois, vem a descoberta de fragmentos de uma pedra diferente: na parte externa, negra e com sulcos, devido à queima durante a passagem atmosférica; e no interior, com aspecto semelhante ao concreto ou prateada devido à presença de ferro e níquel. Essas características indicam a queda de um meteorito. Trocando em miúdos, os meteoritos são meteoróides (fragmentos de asteróides, planetas e até cometas) que giram como os planetas em órbita solar nas proximidades da órbita terrestre, colidindo frequentemente com a Terra quando cruzam um ponto da órbita no mesmo instante que ela.
Conhecidos como meteoros ou estrelas cadentes, eles penetram a atmosfera terrestre em alta velocidade, de 11 a 70 quilômetros por segundo. O forte atrito com o ar faz com que eles se tornem incandescentes a medida que os freiam.

Mas identificar essa pedra extraterrestre é uma tarefa difícil para a maioria da população, que desconhece como são os meteoritos e onde encontrá-los. Por isso, muitas vezes nem desconfia da eventual presença desse tesouro astronômico bem no seu quintal. "A maioria dos meteoritos é atraída por ímãs. Outro dado interessante é que geralmente eles são encontrados no campo, apesar de caírem aleatoriamente, em qualquer local", explica a astrônoma Maria Elizabeth Zucolotto, responsável pelo setor de meteoritos do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Para divulgar a importância das pedras que caem do espaço a favor da ciência e da sociedade, ela coordena, com o apoio da FAPERJ, por meio do programa Difusão e Popularização da C&T, o projeto Meteoritos Brasileiros.

O projeto tem como prioridade a busca e recuperação de meteoritos em todo o território brasileiro por meio da conscientização da população. "A colaboração da sociedade é muito importante para a descoberta de novos meteoritos, pois não existe método científico capaz de determinar quando e onde irá cair um, ou se já caiu no passado", afirma a pesquisadora. Ela vem organizando uma série de exposições itinerantes para mostrar meteoritos a pessoas que, normalmente, não iriam ao museu para vê-los. "A ideia é levar os meteoritos para que as pessoas possam tocar neles e ver como realmente são, estabelecendo um contato direto de terceiro grau com as pedras extraterrestres", conta.

Entre as exposições já realizadas no escopo do projeto estão "Do outro Mundo - Os ET’s invadem o Forte", que ocorreu de 16 de outubro a 2 de novembro de 2010 no Forte de Copacabana, e o projeto de divulgação "Tem um ET em seu quintal?", realizado em maio do mesmo ano nas 25 mil escolas de diversos estados brasileiros que participaram das Olimpíadas Brasileiras de Astronomia (OBA). A partir das informações distribuídas durante a OBA, moradores da cidade de Varre-Sai (divisa entre os estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo) desconfiaram que uma estranha pedra que caiu do céu após um estrondo, em 19 de junho de 2010, era um meteorito.

Só então chamaram especialistas do Clube de Astronomia de Campos para a identificação. Depois, a pesquisadora Maria Elizabeth Zucolotto foi ao local e conseguiu recuperar uma parte do material para o acervo do Museu Nacional. "A pedra de Varre-Sai tem 4,56 bilhões de anos e ficou rondando o Sistema Solar por milhões de anos até cair nessa cidade", avalia. O projeto já recuperou, em um ano e meio de atuação, vários meteoritos encontrados por acaso pela população brasileira. "Antes do Varre-Sai, a última queda a ser recuperada no Brasil foi em 1991. Ele é o terceiro registro de meteorito que caiu no solo fluminense, sendo que a última queda tinha ocorrido em Angra dos Reis, em 1869", informa a astrônoma, que viaja com frequência em busca de meteoritos, com o intuito de conseguir material para ampliar o acervo do Museu Nacional.

Brasil ignora seus meteoritos

Com uma extensão territorial de 8,5 milhões de quilômetros, o Brasil tem apenas 62 meteoritos registrados e catalogados, apesar das estatísticas sugerirem a existência de milhares de exemplares espalhados por seu território, além de pelo menos uma centena preservada por particulares. O número é bem pequeno se comparado ao número de meteoritos encontrados em outros países de área muito menor do que a brasileira. "Com quase 50% da área da América do Sul, o Brasil possui uma amostragem de meteoritos inferior a do Chile ou da Argentina, com territórios bem menores", destaca. "O número de meteoritos brasileiros perfaz apenas 5% da quantidade de meteoritos dos Estados Unidos, país com dimensões territoriais equivalentes às nacionais", completa.

A explicação para essa diferença, de acordo com a astrônoma, reside principalmente na conscientização da população. "Nos Estados Unidos, a grande quantidade de meteoritos encontrados não ocorreu por acaso, mas deveu-se ao grande entusiasmo com que o professor de Biologia Harvey Nininger dedicou-se às buscas, desde a década de 1920. Ele promoveu palestras e ofereceu recompensas em troca de meteoritos e foi também foi o primeiro negociante nesta área", explica.

No Brasil, o projeto é um passo em direção ao preenchimento dessa lacuna. "Há dez anos, quando o projeto Meteoritos Brasileiros teve início, o número de meteoritos brasileiros conhecidos não chegava a 40. Com o aporte de recursos para o projeto nos últimos dois anos, foi possível elevar este número de 55 para 62. E esse número ainda deve ir a 65, pois temos mais três meteoritos submetidos à aprovação do Comitê Meteorítico, ligado ao Meteoritical Society", pondera.

Para que um meteorito possa receber a aprovação do Meteoritical Society, uma amostra de pelo menos 20g ou 20% tem que ser depositada em uma instituição oficial de pesquisa ou museu que tenha meteoritos (o Museu Nacional é o local mais tradicional), além de 10 a 20 g extras para as análises. O meteorito irá então ser analisado quimicamente e ao microscópio, comparado aos demais meteoritos do mesmo tipo e só depois proposto o nome ao Comitê Meteorítico, que se reúne somente duas vezes ao ano. "Esperamos que com o desenvolvimento do projeto, reunindo astrônomos, geólogos e leigos, seja possível aumentar significativamente o número de meteoritos nacionais."

Outro gargalo a ser superado pela meteorítica para ampliar o acervo nacional é a ausência de uma legislação específica no País, já que os meteoritos não se enquadram na categoria de fósseis nem na de bens minerais. "O Brasil ainda se ressente de uma legislação que regulamente a propriedade de meteoritos, pois muitas pessoas que possuem exemplares não os exibem por receio de perdê-los. Sem informações adequadas, quase sempre consideram que cada um desses exemplares vale alguma fortuna e por isso preferem contatar comerciantes estrangeiros pela internet para vendê-los pelo que acreditam ser o melhor preço", conclui a astrônoma.

Mas para a ciência, o valor de um meteorito é inestimável. A análise química da composição dos elementos presentes nas amostras de meteoritos conta a história do universo e ajuda a desvendar os segredos da formação do Sistema Solar. "Por meio da análise dos minerais contidos nos meteoritos, podemos ver as transformações que eles sofreram ao longo de milhares de anos, como choques no espaço, resfriamento e calor", conta a astrônoma. "É possível relacionar essas transformações e ter um registro da própria evolução da Terra e da vida."

Para divulgar na internet informações sobre os meteoritos e como reconhecê-los, a professora Maria Elizabeth Zucolotto criou o site www.meteoritos.com.br. Ela lembra ainda aos leitores interessados que está disponível para fazer análises técnicas de possíveis meteoritos. Basta enviar uma amostra de pelo menos 20 gramas do material encontrado para o Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional, Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, Rio de Janeiro – CEP 20940-040, aos seus cuidados. Confira abaixo o esquema criado pela pesquisadora para ajudar a população a reconhecer um meteorito:

faperj-28gen11

Assessoria de Comunicação FAPERJ