“É um verdadeiro exército de pessoas treinadas em áreas relacionadas à biodiversidade, mas agora chegamos a um patamar mais constante de bolsas e auxílios. Isso significa, de certa forma, que estamos limitados aos pesquisadores já estabelecidos e precisamos convidar mais jovens pesquisadores a submeter seus projetos”, disse Carlos Joly, coordenador do BIOTA, durante a 8ª Reunião de Avaliação do programa, realizada entre 7 e 12 de dezembro, em São Pedro (SP).
A ideia é que a ampliação dos recursos humanos – preferencialmente vinculada a auxílios de maior duração, como Projeto Temático e Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes, de até quatro anos – seja acompanhada de uma crescente interação com pesquisadores de instituições estrangeiras.
“Precisamos nos comunicar com nossos colegas do Brasil, mas também com aqueles do exterior, a fim de atrair jovens promissores e estimular cada vez mais o intercâmbio de ideias”, disse Marie-Anne Van Sluys, membro da Coordenação Adjunta de Ciências da Vida da FAPESP, na abertura do evento.
Aproximar diferentes times de pesquisa foi um dos objetivos do encontro, que contou com a participação de alunos, pesquisadores principais e membros do Comitê Externo de Avaliação – formado por pesquisadores de renome internacional que, periodicamente, analisam o andamento do programa.
“Há linhas de pensamento próximas e o diálogo pode render resultados interessantes. Por exemplo: o professor Jerome Chave, que coordena o Laboratório de Biodiversidade Amazônica do Centro Nacional de Pesquisa da França, instalado na Guiana Francesa, demonstrou, nesses dias, interesse em intercambiar alunos de lá com brasileiros estudando a evolução da biota amazônica e da Mata Atlântica no âmbito de parcerias nossas com a National Science Foundation (NSF), dos Estados Unidos. São oportunidades assim que queremos explorar nos próximos anos”, disse Joly.
O aumento da internacionalização, uma das prioridades do Science Plan and Strategies for the next decade do BIOTA+10, vem atingindo as metas definidas em 2010. Com o apoio da diretoria científica, a coordenação estabeleceu parcerias e lançou chamadas de propostas com a NSF e com o Natural Environment Research Council (NERC), do Reino Unido.
“Uma das grandes conquistas do BIOTA foi assumir voz ativa no cenário internacional. Além da parceria com as agências, participamos de forças-tarefa e grupos de trabalho da plataforma IPBES [Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos], bem como da definição do escopo de chamadas da FAPESP com o Belmont Forum para cenários em biodiversidade”, relatou Joly.
Próximos desafios
A coordenação do programa buscará agora uma maior aproximação com professores da Educação Básica. Em 2013 e 2014, o Ciclo de Conferências BIOTA-Educação ofereceu a estudantes e docentes de ensino fundamental e médio uma série de palestras sobre biomas e serviços ecossistêmicos.
“O que ainda falta fazer é lançar uma chamada de propostas específica em educação. É algo que está em discussão há mais de um ano e planejamos concretizar em 2015”, disse Joly.
Outra nova frente de interesse é a interface entre biodiversidade e saúde pública. Já existem estudos em andamento sobre vetores de doenças, mas a coordenação busca formas de chamar a comunidade médica a colaborar com o programa de forma mais direta.
Em relação aos temas de pesquisa, foi registrada queda no número de projetos de determinadas áreas, como ecologia e conservação de invertebrados terrestres.
“Animais como borboletas, abelhas e libélulas são indicadores ambientais muito fortes. No momento, temos poucos pesquisadores trabalhando com esse foco e precisamos pensar em maneiras de estimular submissões de novos projetos”, disse.
Entre os assuntos a ainda serem explorados está a reintrodução de fauna. Segundo Joly, a restauração do componente arbóreo de, por exemplo, matas ciliares, já está bem sedimentada entre as equipes de pesquisa, que dominam quais espécies devem ser replantadas e como assegurar a variabilidade genética dos plantios.
A reintrodução de animais é mais delicada, pois exige uma infraestrutura grande para criar, por exemplo, pequenos roedores, pacas e cotias que não pertençam, geneticamente, à mesma família, afirmou o coordenador do BIOTA.
“Nossas pesquisas apontam que não adianta restaurar a vegetação de uma área e não ter a fauna de dispersores, essencial para restabelecer a dinâmica da vegetação. Trata-se de uma área de pesquisa importante e desafiadora. Devemos usar animais de criadouros distintos? Pode ser, mas ainda não temos a resposta para esta e outras perguntas. Por isso, precisamos desenvolver rapidamente esta área de pesquisa, que deve gerar dados que permitam uma mudança de patamar nos projetos de restauração da biodiversidade.”
Processo avaliativo
A 8ª Reunião de Avaliação do Programa BIOTA/FAPESP foi a que reuniu o maior número de projetos. “Foram cerca de 70. Por isso, promovemos ao longo do ano cinco workshops preparatórios, divididos em áreas temáticas”, disse Joly.
Os workshops ocorreram na sede da FAPESP, em São Paulo, e abrangeram as áreas de ecossistemas terrestres, organismos aquáticos, bioprospecção, microrganismos, vertebrados, invertebrados e projetos de cooperação internacional.
Cada encontro deu origem a uma síntese, apresentada ao Comitê Externo de Avaliação no evento em São Pedro. “As sínteses nos deram um ótimo panorama das pesquisas em andamento. Nosso objetivo é avaliar o programa como um todo, mas esse formato também beneficiou os projetos de forma individual”, disse Daniel Faith, do Australian Museum (Austrália).
Depois de discutir os resultados e preparar um rascunho do que será o relatório final, os avaliadores externos estiveram na sede da FAPESP para compartilhar suas primeiras impressões com Hernan Chaimovich, assessor especial da Diretoria Científica da FAPESP.
“O programa teve avanços muito significativos em termos de biodiversidade. O próximo passo parece ser integrar biologia molecular, farmacologia e negócios”, disse Chaimovich, após a apresentação.
Nesse sentido, os avaliadores recomendam a preparação de um portfólio de compostos naturais com bom potencial para a fabricação de novos medicamentos, com suas estruturas e doenças-alvo, que funcione também como um plano de negócios. A ideia é que líderes mundiais na área sejam consultados, analisem as descobertas que têm maior chance de sucesso e possam colaborar com sugestões para seu desenvolvimento junto à indústria.
Em relação à performance científica conquistada desde a última avaliação, o comitê afirmou ter se impressionado com os resultados. “Olhando o plano estratégico de 2010, houve bom progresso em todos os cinco objetivos principais do programa e na maioria de suas 13 prioridades”, disse Faith.
“Uma de minhas sugestões feitas durante a última avaliação do programa era a inclusão de uma vertente marinha, que hoje já está consolidada e traz uma nova perspectiva ao BIOTA”, declarou Ronald O’Dor, pesquisador da Dalhousie University (Canadá).
“Esse processo de avaliação tem uma característica especial em relação às avaliações anteriores, pois é o primeiro balanço que fazemos de projetos aprovados após a renovação do apoio da FAPESP, em 2010. Ou seja, uma chance de vermos o quanto estamos cumprindo as propostas colocadas no plano de estratégias para até 2020”, disse Joly.
A próxima reunião de avaliação deverá ocorrer no prazo de dois a três anos.
Minicursos e conferências
Durante três dos cinco dias da reunião de avaliação do programa BIOTA, os alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado puderam participar de quatro minicursos temáticos: Introdução ao SINBIOTA 2.1; Aspectos práticos da interpretação de espectros de massas com ionização por eletronspray e MALDi, e sua aplicação na análise do metabolismo de produtos naturais; Introdução ao uso do Programa R; e O uso de DNA barcoding na taxonomia e sistemática de fungos.
Os alunos também tiveram a chance de conhecer as linhas de pesquisa dos avaliadores externos, que ofereceram conferências entre os dias 7 e 9 de dezembro.
Entre os palestrantes estiveram David Newman, pesquisador do National Cancer Institute (Estados Unidos), e Raymond Andersen, da University of British Columbia (Canadá), que falaram sobre a importância dos produtos naturais para a descoberta de novos medicamentos e suas trajetórias de pesquisa na área. Faith apresentou seu método de estudo em diversidade filogenética e probabilidades de extinção.
O’Dor falou sobre o funcionamento do sistema OBIS (Ocean Biogeographic Information System), que permite aos usuários buscar informações sobre espécies marinhas de todos os oceanos e hoje está relacionado a projetos de migração de peixes na Amazônia e à Rede Pirata – uma colaboração entre Brasil, Estados Unidos e França para instalação de boias com sensores de monitoramento oceânico.
O programa BIOTA
Prestes a completar 15 anos, o BIOTA busca entender processos que geram, mantêm ou reduzem a biodiversidade; organizar dados e disponibilizá-los para formuladores de políticas públicas e para a sociedade de forma mais ampla.
Desde 1999, cinco patentes foram depositadas e 1.490 artigos foram publicados, incluindo papers em revistas de alto impacto, como Nature e Science. O programa conta ainda com uma revista on-line, Biota Neotropica, com a rede de bioensaios e bioprospecção Bioprospecta, com o banco de dados Sinbiota e uma newsletter trimestral.
Na área de políticas públicas, o BIOTA ajudou o governo do Estado de São Paulo a formular e aperfeiçoar legislação sobre conservação ambiental na forma de atos normativos, resoluções e decretos baseados nas descobertas dos pesquisadores envolvidos com o Programa.
Mais informações sobre o Programa BIOTA: www.fapesp.br/biota e www.biota.org.br.
Agência FAPESP