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Notícias do Campus
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Falta menos de um mês para o início da Copa do Mundo no Brasil e antes do começo já sinto toda a desilusão de quem acreditou que podia ser diferente: de que neste dia eu teria um país de ruas mais limpas, de menos crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade espalhadas pelas pequenas e grandes cidades, de mais e melhores acessos para circular pelas cidades, enfim, um país mais justo e igual. Confesso que fui ingênua ao comemorar a escolha do Brasil como sede do mundial, pois a única coisa que pensei naquela época é que seria uma bela forma de unir a nossa paixão nacional com a oportunidade de espalhar e ampliar o desenvolvimento de nossas cidades tão aquém em termos de infraestrutura de outras cidades menos ricas, no entanto, mais iguais.

Mas esqueci que vivo no país da contradição, do paradoxo, onde é possível ser a sétima economia do mundo e, ainda assim, ocupar a 85ª posição no ranking mundial de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Lugar onde é possível construir grandes estádios sem pensar no entorno, na melhoria dos acessos, na democratização e criação de espaços públicos.

Quer se receber turistas bem, mas os cidadãos brasileiros são diariamente mal tratados. Sendo assim, não se pode esperar cortesia como norma de conduta da maioria.

Lamento que o mundo tenha que assistir de camarote ao caos da nossa contradição, que tenhamos que exibir como em um reality show toda a truculência com que somos tratados quando se fala em direitos básicos como saúde, segurança e educação, assegurados de modo muito mais igualitário em países menos ricos que o nosso.

Só espero que isso não seja o estopim da barbárie e da violência, afinal, roupa suja se lava em casa, mas sei que é demais pedir bom senso e cautela a quem é sucessivamente agredido pela ausência de igualdade de oportunidades.

O país que internacionalmente pede o respeito aos direitos humanos é o mesmo que convive com o tráfico e a exploração sexual de crianças e adolescentes, que trata seus presos como se não fossem seres humanos e os pobres como se fossem lixo.

Quatro anos depois da vitória de ter sido escolhido como sede da copa, tenho que reconhecer, entramos em campo como perdedores. E isso não tem nada a ver com a seleção.

Por Joice Mendes - mestre em Ciência da Comunicação pela
Universidade Nova de Lisboa e assessora de comunicação do
Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (Unileste)