Buscar destinos mais seguros para o dinheiro em tempos de crise é prática das mais recorrentes. O inusitado, na ocasião, foi o fato de que os bancos menores – de onde saíram os recursos – não apresentavam uma fragilidade que justificasse a prática. “Em alguns apectos, eles estavam até mais sólidos do que os seis grandes bancos”, conta o professor Lucas Ayres Barros, da FEA, um dos condutores do estudo.
Finanças comportamentais
Barros é pesquisador em finanças comportamentais. Na área, estuda-se os caminhos que um investidor trilha até decidir onde aplicará o seu dinheiro – avaliando, por exemplo, circunstâncias como grau de informação, interesses na aplicação, disponibilidade para correr riscos, e outros fatores.
É um tema ainda incipiente no Brasil. Na FEA, onde Barros leciona, os estudos em finanças comportamentais passam por ascensão. Ainda não há uma disciplina formal sobre o tema, que permeia atividades de pesquisadores.
O professor identifica um crescente interesse dos alunos sobre o assunto, que, dentre outros fatores, é explicado pela interdisciplinaridade que envolve as finanças comportamentais e também pelo acréscimo no debate sobre as aplicações financeiras.
A crise
O estudo em finanças comportamentais não abarca apenas os movimentos de pessoas físicas – aquelas que optam entre poupança, capitalização ou renda fixa, ou ainda destinam parte de seu dinheiro para aplicações mais arriscadas nas bolsas de valores. Pelo contrário: em pesquisas como a que Lucas Ayres Barros vem conduzindo, o foco recai também sobre os grandes investidores.
É um público, como diz o professor, que conhece os meandros do mundo financeiro e não deveria ser seduzido por estratégias convencionais de marketing – o que poderia justificar, numa primeira abordagem, a opção pelos bancos de maior porte, ainda que não sejam exatamente os mais seguros.
A partir daí nascem as hipóteses levantadas pelos pesquisadores. Uma diz que os investidores optaram pelos maiores bancos por crerem que eles teriam um suporte governamental em caso de quebra iminente – “como ocorreu com parte dos bancos de EUA e Europa”, relata o professor.
Em uma próxima etapa da pesquisa, está prevista a realização de entrevistas com os investidores, para que sejam ouvidas, diretamente das fontes, as explicações para o movimento. Que, vale ressaltar, fez caminho inverso quando a crise se assentou – as aplicações voltaram para os bancos menores (que muitas vezes oferecem taxas de juros maiores) e para o sempre incerto mercado de capitais. A crise já acabou, mas a percepção de seus efeitos é algo ainda em curso.
USP Online