Imprimir
Ciência e Tecnologia
Submit to FacebookSubmit to Google PlusSubmit to TwitterSubmit to LinkedIn
Um projeto que visa determinar o porcentual da população paulistana que já foi infectada e desenvolveu anticorpos contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2) começou na quinta-feira (30/04) em seis bairros da capital. Essa informação é considerada crucial para a elaboração do plano de flexibilização da quarentena na cidade, onde se concentra a maioria dos casos de COVID-19 do país. A iniciativa envolve pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade de São Paulo (USP), além de colaboradores do Grupo Fleury, da consultoria Ibope Inteligência e da ONG Instituto Semeia. Conta ainda com apoio da Secretaria Municipal de Saúde e do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo, criado pelo governo estadual. 
“Nossa equipe fará, nesta etapa-piloto, a coleta domiciliar de dados, por meio de um questionário, e de amostras de sangue de 500 moradores, que serão levadas para análise em laboratório. Acreditamos que em no máximo seis dias após o início da coleta os primeiros resultados estejam disponíveis”, conta o médico Celso Granato, professor da Unifesp e diretor clínico do Grupo Fleury.

No momento, estão sendo selecionados os domicílios que serão visitados pela equipe do projeto. A fase de coleta deve começar na segunda-feira (04/05).

O material será analisado em uma unidade da rede Fleury localizada no bairro do Jabaquara, por um método conhecido como quimioluminescência – capaz de detectar tanto a presença de anticorpos IgM (imunoglobulina M), que é o primeiro tipo produzido pelo organismo e que pode ser detectado a partir do sétimo dia de infecção, como de anticorpos IgG (imunoglobulina G), produzidos mais tardiamente e considerados mais específicos e duradouros.

Foram incluídos na primeira fase de coleta os três bairros paulistanos com maior incidência cumulativa de infecção pelo novo coronavírus (número total de casos confirmados por 100 mil habitantes): Morumbi, Jardim Paulista e Bela Vista. E também os três bairros com maior incidência de óbitos por COVID-19 (número de mortes pela doença por 100 mil habitantes): Água Rasa, Belém e Pari.

“A seleção dos bairros foi feita com base nas estatísticas fornecidas pela Prefeitura. Em um futuro breve, pretendemos ampliar a área de coleta e também, oportunamente, voltar a esses seis bairros para medir a taxa de soroconversão [porcentual de moradores que no primeiro exame não tinham anticorpos e, no seguinte, passaram a ter]. Esses dados nos darão uma ideia de como a epidemia está evoluindo na cidade”, conta Granato.

O desenho da pesquisa seguiu a mesma técnica de amostragem probabilística usada nas pesquisas de opinião pública conduzidas pelo Ibope. O objetivo é obter uma amostragem representativa da população que reside nas regiões estudadas. Os resultados serão compartilhados com os gestores públicos.

Inquéritos seriados

Especialistas em epidemiologia estimam que as medidas de distanciamento social só poderão ser totalmente abandonadas em uma determinada região quando for atingida a chamada imunidade de rebanho, ou seja, quando aproximadamente 80% da população local já tiver sido infectada e apresentar anticorpos contra o novo coronavírus. Acredita-se que, nessa fase da epidemia, os casos graves seriam esporádicos e o sistema de saúde daria conta de atendê-los.

Na avaliação da médica e professora do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP Beatriz Tess, esse processo deverá ocorrer de forma bastante heterogênea na capital paulista, ou seja, alguns bairros atingirão a imunidade de rebanho mais rapidamente, enquanto outros ainda terão a maior parte de sua população suscetível ao vírus e poderão levar mais tempo para sair da quarentena, dependendo da estratégia adotada pelos gestores da saúde.

“Por esse motivo, é importante repetir a metodologia deste piloto na forma de inquéritos domiciliares seriados, a cada três ou quatro semanas, em diversas regiões da cidade e em outros municípios do Estado de São Paulo. Assim, a evolução da epidemia poderá ser monitorada por meio da taxa de soroprevalência [porcentual de moradores que já desenvolveram anticorpos]”, conta Tess.

A fase-piloto do projeto está sendo custeada pelo Grupo Fleury e pelo Instituto Semeia. Para a ampliação e a continuidade do monitoramento, o grupo espera contar com novas fontes de financiamento. “Várias empresas manifestaram interesse em contribuir. Os resultados serão fundamentais para planejar a flexibilização do isolamento, a adequação dos serviços de saúde e outras políticas públicas relacionadas ao combate da COVID-19”, afirma Tess.

Um dos desafios, porém, será a importação dos reagentes necessários para analisar as amostras em laboratório. “Para os primeiros 500 testes já temos o material reservado, mas não está fácil a importação dos insumos”, conta Granato.

Agência FAPESP